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Economia

Maioria das flores vendidas em Angola vem de outros países

Economia

Produção de plantas e flores cresce no País, mas os produtores nacionais disputam o espaço com as importações, sendo que o Quénia e a África do Sul são os principais concorrentes. Mão-de-obra especializada, disponibilidade de sementes e insumos, e acesso ao crédito são as maiores dificuldades.

Apesar de já existirem fazendas nacionais a produzir flores e plantas ornamentais, o negócio das flores no País ainda é feito em grande parte com produtos importados. Os floristas ouvidos pelo Expansão afirmam que ainda recorrem muito ao exterior para comprar certas espécies, mesmo aquelas que já se encontram no mercado nacional, "por terem maior tempo de vida, se comparadas com as produzidas em solo angolano", dizem-nos. Os principais países de origem das flores importadas são a África do Sul e do Quénia.

Paula Cristina, vendedora de várias espécies de flores há mais de 10 anos é prova disto. Ela confirma que continua a comprar os atados de flores na África do Sul porque duram mais, é próximo e têm um maior impacto nos lucros da actividade "Procuramos fora porque duram mais, e assim ganhamos a confiança dos clientes", disse a florista, referindo que satisfeitos os clientes voltam e é possível fazer mais vendas ao longo do ano. A vendedora que tem a tenda montada no largo do cemitério da Santana tem média sete clientes por dia, mas em datas especiais chegar a vender mais de 30 bouquet.

Engrácia Morais, outra vendedora no mesmo espaço, confirma que também compra no estrangeiro mas que existem espécies que se abastece sempre em Angola, realçando que tem uma parceria com uma fazenda desde 2021 onde compra as rosas de porcelana. "O preço é compatível com a qualidade", referiu. Como nos explicou, ela compra cada pé da porcelana a 400 Kz, e o arranjo já com os "enchimentos", como ela chama, comercializa em média por 5 mil Kz, o que lhe deixa uma boa margem.

Arlete Pedro, proprietária da "Casa de Flores" faz uma selecção de flores e plantas a comprar tanto fora como dentro do País. A empresária usa desta fórmula "mista" para conciliar os "dois mundos", uma forma de beneficiar a produção nacional que já está bem desenvolvida com o que há de melhor pelo mundo.

A florista disse ao Expansão que o bouquet de flores importadas é sempre mais caro, há quem não as possa pagar, então ela tem duas tabelas de preço de forma a não perder clientes. As flores nacionais são mais baratas mas há menos diversidade. "Esta é uma estratégia que ajuda a manter a loja funcional, potencia o número de clientes e possibilita-nos não estar dependentes de apenas um fornecedor", salientou.

Produtores Nacionais

Suzana Pedro é proprietária da fazenda e da floricultura "Grace Flores". Começou esta caminhada há 4 anos de uma forma muito "empírica" a produzir dálias e gladíolos em pequena escala, e só mais tarde vieram as rosas. Ela reclama a forma insistente dos lojistas preferem comprar, sobretudo, rosas no exterior, quando aqui já se produz. "Acho que as taxas de importação deviam ser agravadas, para desencorajar os compradores", disse, ao reconhecer que "a nossa altitude é comparativamente baixa em relação, por exemplo, ao Quénia, de onde vêm ultimamente a maior parte das flores consumidas em Angola".

Defende que a produção nacional deve ser mais valorizada, explicando que começou a produzir na fazenda com fundos próprios, realçando várias vezes na conversa com o Expansão, que esta é uma caminhada que se faz mais por amor do que por dinheiro. E refere que as flores não são apoiadas por nenhum dos programas de diversificação económica que o governo tem vindo a implantar, reforçando que "os Bancos e os projectos do Estado não contemplam este tipo de produto".

Hoje estrutura a sua produção em dez variedades de rosas e oito variedades de rosas de porcelana, reconhecendo que a sua produção ainda é pequena e que este negócio precisa de escala para gerar lucro. De acordo com Suzana Pedro, "produzimos pouco porque temos poucos clientes. Temos potencial na fazenda para aumentar a nossa oferta, hoje já temos aos clientes permanentes, mas a procura ainda é insuficiente". Nesta busca de clientes, a fazenda tem agora uma página no Facebook onde mostra os seus produtos e faz os primeiros contactos comerciais.

Outro exemplo da produção nacional é a fazenda Sagribengo/ExpoGarden. Iniciou a sua produção de flores de corte em 2015, um projecto que nasceu do espírito empreendedor aliada à paixão administrador, Rogério Martins Leonardo. Além das plantas ornamentais, palmeiras, árvores e flores tropicais de corte, a fazenda desenvolve projectos de arquitectura paisagística e construção de jardins públicos e privados. O investimento na produção foi todo feita com recursos a capitais próprios e está avaliado em cerca de 2 milhões USD.

O director do geral da Sagribengo, Tito Tiago, explica que no verão colhem diariamente mais de 2000 flores tropicais de várias espécies mas que no tempo frio a produção retrai e cai cerca de 40%. Com esta quantidade é possível atender, em média, 100 clientes/dia na loja ExpoGarden, no Maculusso, e também vendem a grosso para mais de 20 floristas e 30 vendedoras ambulantes.

Explica ao Expansão que é necessária mão-de-obra especializada e maior disponibilidade de sementes e insumos, para Angola estar em pé de igualdade, ou próximo disto, dos outros produtores africanos. Defende também que a valorização das flores "made in Angola" passa pela mudança de hábitos de consumo e aumento da produção local de rosas de melhor qualidade e tamanho. "As pessoas importam maioritariamente rosas, lírios e outras flores que ainda não são produzidas em Angola", explicou, acrescentando que " a nossa fazenda continua a apostar na diversificação da sua oferta, continua a apostar na busca de novas espécies que adaptem às nossas condições climatéricas e tenham níveis de produção aceitáveis".

Acrescentar que as mudas e as sementes que a fazenda Sagribengo utiliza chegam de toda a parte do mundo, embora Holanda, Portugal e Brasil sejam os países de origem com mais expressão.