Banco Económico há três anos sem prestar contas e pressionado por clientes
A instituição bancária completa três anos desde que deixou de divulgar ao mercado e aos clientes o resultado das suas operações ou onde aplica os activos. Ao Expansão, patrões e líderes empresariais pressionam BNA para uma intervenção "mais vigorosa" no Banco Económico.
Passados três anos desde que o Banco Económico (BE) deixou de divulgar os resultados das suas actividades e a situação patrimonial, vários clientes e diferentes ramos de actividades já começaram a questionar a situação operacional da instituição bancária e até mesmo a segurança dos recursos que estes confiaram no referido banco através de depósitos. A enfrentar dificuldades de liquidez, o ex-Banco Espírito Santo Angola (BESA) está há vários anos à espera para implementar um plano de reestruturação, que sucessivamente tem sido adiado sem nunca terem sido dados esclarecimentos públicos sobre o assunto.
Entretanto, mais recentemente, no final do ano passado foi anunciado um novo plano de reestruturação, que visa transformar os depósitos dos maiores depositantes em capital do banco, numa iniciativa alinhavada com o BNA e que não resolve o principal problema do banco que é a falta de liquidez. Bastante afectado pelo crédito malparado e pelos efeitos da reavaliação dos activos operada pelo banco central a pedido do FMI em 2019, que veio destapar as dificuldades do banco, para resgatar o BE são agora necessários 1,1 biliões Kz.
Para sobreviver estes anos em incumprimento, o Banco Económico tem-se feito valer do seu peso no sistema financeiro nacional, sendo tratado como um banco "too big to fail", mas também pela inércia no BNA na cobrança de uma dívida de 256,96 mil milhões Kz do Banco Económico contraída em 2016 e que continua em incumprimento nos balanços do supervisor.
Desde finais de Dezembro de 2018 que não se sabe nada sobre as contas consolidadas do BE ou sobre como o banco tem vindo a gerir os recursos dos seus clientes, já que, segundo tem vindo a noticiar o Expansão, a instituição não publica relatórios e contas desde essa data e deixou igualmente de divulgar os balancetes desde o terceiro trimestre de 2019.
Até esta quarta-feira, 6 de Julho, só estavam disponíveis no website da instituição os relatórios e contas do banco de 2014 a 2018 e os balancetes trimestrais dos anos 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019, este último apenas até ao terceiro trimestre, o que, na opinião do patrão industriais de Angola, José Severino, "é um sinal muito mau".
"É um sinal muito mau, para aquilo que é o ambiente de negócios em Angola, um banco dessa dimensão não apresentar contas. Isto é, de facto, uma situação que fere a lei, porque o banco é uma sociedade anónima, tem obrigação de apresentar os seus resultados nos prazos definidos na lei e há a obrigação de publicar na comunicação social, pelo menos no jornal de maior circulação. E há ainda a regulamentação do Banco Nacional de Angola (BNA). E em respeito aos seus depositantes", assinalou José Severino.
O líder da Associação Industrial de Angola (AIA) foi mais longe e disse ainda que, pelo facto de o banco não estar a revelar os resultados das suas actividades, compromete o sistema nacional. "Na verdade, é uma situação que belisca, no todo, a imagem do país. Um banco que há três anos não apresenta contas como é que pode estar a funcionar no país?", questionou Severino.
Diante do quadro por que passa o banco que nasceu das "cinzas" do Banco Espírito Santo Angola (BESA), José Severino defende uma melhor postura do regulador, que deve actuar, segundo apontou, com "mais vigor". "Se o banco, por meios próprios não consegue criar essa dinâmica e não consegue sair dessa situação de sufoco, com todo o respeito que temos por quem lá está, achamos que o BNA vai ter que ter uma intervenção mais vigorosa nesse assunto", apontou o líder dos industriais de Angola.
José Severino entende que uma intervenção vigorosa do BNA seria fazer um levantamento técnico da situação do banco. Ou seja, a situação técnica e organizativa. "Os cidadãos e o mercado têm de saber exactamente o que é que o BNA está a fazer [no banco]. Eu não acredito que o BNA esteja apático nesta situação", sublinhou o também economista.
(Leia o artigo integral na edição 682 do Expansão, de sexta-feira, dia 08 de Julho de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)