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Caminhos de ferro receberam 43 milhões USD em subsídios, mas somaram prejuízos de 50 milhões em cinco anos

APENAS A CAMINHO DE FERRO DE BENGUELA FUGIU AO ‘VERMELHO’

As três operadoras de transporte ferroviários apresentam resultados operacionais negativos, mesmo com subvenções do Estado. Insuficiente mão-de-obra qualificada, e a falta de planos de manutenção preventiva tanto para a infraestrutura de via, como para locomotivas e vagões, estão na base do fraco desempenho do sector.

O Caminho de Ferro de Benguela (CFB), Luanda (CFL) e de Moçâmedes (CFM), empresas públicas do sector ferroviário, receberam, entre 2020 e 2024, cerca de 26,7 mil milhões Kz em subsídios estatais à exploração, mas acumularam, no mesmo período, prejuízos de 26,8 mil milhões Kz, segundo cálculos do Expansão com base nos relatórios e contas destas empresas. Contas feitas, receberam 43 milhões USD em subsídios e tiveram 50 milhões USD em prejuízos, à taxa de câmbio média dos respectivos anos.

Entre as três operadoras, o CFM, localizado na província do Namibe, tem os piores resultados. Só para se ter uma ideia, em 2024, o Caminho de Ferro de Moçâmedes contabilizou prejuízos de quase 4,0 mil milhões Kz (cerca de 4,5 milhões USD) um aumento de 118% face aos resultados negativos de 1,8 mil milhões Kz verificados em 2023, ou seja, o prejuízo mais do que duplicou. E o facto é que os prejuízos têm crescido ano após ano, tendo acumulado já 8,4 mil milhões Kz de perdas em cinco anos, o que contrasta com os 9,5 mil milhões Kz de subsídios recebidos neste período.

O CFL, também viu o prejuízo a aumentar, ao passar de -262 milhões Kz para -788 milhões Kz, ou seja, as perdas mais do que triplicaram.

Apenas o Caminho de Ferro de Benguela registou lucros nos últimos dois anos. Em 2024, a operadora contabilizou lucros de 291,1 milhões Kz, o que presenta um aumento de 89% face aos 154,3 milhões Kz registados em 2023. O facto é que o CFB começou a registar lucros depois de o consórcio LAR (Lobito Atlantic Railway), constituído pela Trafigura, Mota-Engil e Vecturis, ficar com a concessão para a operação, gestão e manutenção do corredor ferroviário do Lobito, por um período de 30 anos.

Assim, se termos em conta os resultados dos últimos cinco anos, o CFB acumula perdas 14,9 mil milhões Kz, mesmo com os resultados positivos alcançados em 2023 e 2024.

Importa realçar que o Caminho de Ferro de Benguela beneficia de prémios de concessão e renda anual, o que eleva os proveitos da operadora. Em 2024, o CFB recebeu 2,7 mil milhões Kz de rendas da concessionária LAR. Este valor representou 39% dos proveitos operacionais da empresa.

Assim, olhando para o cenário das três empresas, todas têm em comum o facto de serem subsidiodependentes, ou seja, não conseguem pagar as suas operações e dependem de dinheiro do Tesouro para manterem as suas actividades.

Para o presidente da Associação dos Técnicos Ferroviários de Angola (ATECFA), Mário Cuâmbua, vários factores estão na base do fraco desempenho do Caminho de Ferro do País, desde a qualidade da gestão, baixa qualidade na formação, insuficiente mão-de-obra qualificada, ausência de programas de actualização profissional a "todos os níveis", bem como a falta de planos de manutenção preventiva tanto para a infraestrutura de via, como para o material circulante (locomotivas, vagões), oficinas de manutenção e reparação sem os equipamentos adequados.

Assim, Mário Cuâmbua entende que para que os caminhos de ferro possam contribuir mais para a economia, as operadoras, além de melhorarem a parte operacional, têm de conquistar a confiança dos passageiros e de todos os que procuram os seus diversos serviços, praticando velocidades mais razoáveis. "Fica complicado, por exemplo, levar uma hora para fazer um trajecto de 25 quilómetros. Precisamos de ter frequências regulares, relativamente ao cumprimento de horários, ter uma circulação de comboios com regularidade e em segurança", apontou.

É urgente tratar do CFL e CFM

Já o consultor Mário Pires argumenta que "é urgente tratar dos Caminho de Ferro de Luanda e de Moçâmedes em termos de oportunidades de mercado".

Quanto ao CFL, Mário Pires entende que deve ser orientado para transporte suburbano de passageiros, no Troço Bungo - Baia - Bungo (incluindo o Ramal do AIAAN), explorando as 2 linhas paralelas, e criando uma alternativa de entrada em Luanda, de larga escala, especialmente com a criação de um nó rodoferroviário, no entroncamento da Estrada de Catete com a Via Expresso.

Em relação ao transporte suburbano de carga, entende que se deve apostar também no troço Porto de Luanda - Baia - Porto de Luanda, para movimentar, em especial, cargas do porto de Luanda para os portos secos e indústrias receptores de grandes volumes de carga marítima.

Para o transporte de longo curso de carga, tendo como objectivo pontos de redistribuição rodoviária, como seja no Dondo, Lucala, Cacuso e Malange, Pires entende que podem integrar simples pontos de transferência, mas também futuras plataformas logísticas. "Esta solução reduziria a pressão sobre as Estradas Luanda - Dondo e Luanda - Malange", explicou.

Leia o artigo integral na edição 847 do Expansão, de Sexta-feira, dia 10 de Outubro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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