Número de crianças fora do sistema de ensino duplicou para 4,5 milhões desde 2014
Estes milhões de crianças e jovens excluídos representam quase metade dos alunos matriculados no ano lectivo 2025/2026. As crianças fora do sistema de ensino enfrentarão maiores dificuldades em quebrar ciclos de pobreza.
Os dados do Censo de 2024, embora amplamente contestados, revelam que os indicadores da educação na população dos 5 aos 18 anos pioraram em dez anos. Cerca de 4,5 milhões de crianças e jovens estão hoje fora do sistema de ensino nesta faixa etária, mais 2,5 milhões do que na última contagem censitária, em 2014. O quadro revela que as políticas no sector da educação - que recorrentemente sofre cortes substanciais na execução nos seucessivos OGE face aos valores inicialmente inscritos - não conseguiu acompanhar o crescimento populacional.
A população entre os 5 e os 18 anos é de 13,1 milhões, segundo o Censo de 2024, o que significa que 34% estão fora das salas de aula, um aumento de 12 pontos percentuais face a 2014. A situação é ainda mais grave entre os 5 e os 11 anos.
Neste grupo etário existem mais de 2,4 milhões de crianças fora do sistema de ensino, o equivalente a 4 em cada 10, numa fase do ensino em que a escolaridade é obrigatória até à 9.ª classe, conforme a Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino.
Na faixa dos 12 aos 14 anos, com uma população de 1,2 milhões, 27% não frequentam a escola; entre os 15 e os 18 anos, a percentagem sobe para 37,6%, por se tratar de uma idade em que o mercado de trabalho já rivaliza com as salas de aulas.
Para ter noção da gravidade do problema, os 4,5 milhões de crianças e jovens excluídos representam quase metade dos 9,7 milhões de alunos matriculados no ano lectivo 2025/2026. O número de crianças fora do sistema contrasta com o esforço de expansão da rede escolar e de contratação de professores ao longo da última década.
Os resultados podem reflectir, também, a baixa execução orçamental no sector social, particularmente na educação, que até Setembro executou apenas 38% do orçamento previsto. De acordo com Sérgio Calundungo, coordenador do Observatório Político e Social de Angola (OPSA), estes números mostram que o País está a comprometer o seu futuro.
"Não podemos promover Angola como um país grande e belo enquanto milhões de crianças continuam fora do sistema de ensino. A educação é fundamental e deve ser assegurada como um direito, não tratada como privilégio". Segundo a UNICEF, as crianças que não frequentam a escola encontram-se entre as mais vulneráveis, expostas a riscos como o casamento forçado, o trabalho infantil e o recrutamento por grupos armados. Além de serem privadas do direito à educação, à segurança, à saúde e a futuras oportunidades.
"A exclusão escolar também tem repercussões económicas, com um custo global previsto de 10 milhões USD anualmente até 2030".
No entanto, o aumento da população fora da escola não se traduziu num agravamento do analfabetismo. Pelo contrário, a taxa desceu de 34,4% em 2014 para 27,4% em 2024, entre pessoas com 15 ou mais anos. Ainda assim, mais de 10 milhões de angolanos neste grupo etário não sabem ler, num universo de 29,2 milhões de habitantes.










