Condel penalizada pela quebra no sector da construção e obras públicas
A empresa que produz cabos eléctricos de baixa tensão afirma que as grandes obras são financiadas a partir do estrangeiro e que essa realidade tem impacto na produção nacional porque retira mercado às empresas instaladas em Angola. O primeiro trimestre de 2022 ainda não dá sinais de recuperação.
A Condel, fábrica de cabos eléctricos do Prysmian Group que agora se chama General Cable Condel, situada em Luanda, no município do Cazenga, tem uma capacidade instalada anual de 6 mil toneladas de cabos eléctricos mas, neste momento, produz pouco mais de 1.500 toneladas (apenas 25% da capacidade instalada) devido aos efeitos da recessão económica no sector da construção civil.
Em Angola, a principal vocação do grupo multinacional é a fabricação de cabos eléctricos de baixa tensão, mais adequados para infraestruturas sociais e residenciais. A crise do petróleo em 2014 e as sucessivas recessões resultaram num desinvestimento em obras públicas desde 2015, realidade que não permitiu dar um salto no volume de produção da antiga Condel.
Nas grandes obras, o grupo encontra muitas dificuldades para ganhar contratos porque quase todas importam o material eléctrico. E quando conseguem captar novos clientes a este nível, de acordo com Rui Pinto, administrador da General Cable Condel e, as percentagens adjudicadas localmente são muito pequenas, inibindo assim a aposta na capacidade total da fábrica. "Os projectos financiados são o nosso grande handicap. É verdade que neste tipo de projectos há alguma incorporação nacional mas, no fim das contas, a quota que é atribuída, entre 10% a 30%, acaba por ser executada com mão-de-obra local enquanto o material vem todo de fora", lamenta Rui Pinto.
O gestor admite que uma parte do material eléctrico ainda não é produzido no mercado nacional. Mas, no que diz respeito a cabos eléctricos de baixa tensão, a General Cable Condel tem capacidade para abastecer a procura interna que, de acordo com Rui Pinto, necessita anualmente de 6 mil toneladas, o equivalente à capacidade instalada na fábrica do Cazenga.
Mais incorporação local
Para alavancar os níveis de produção, sugere o administrador, é fundamental que as obras financiadas contemplem 50% do material produzido localmente e não apenas mão-de-obra. "O problema não está na qualidade do produto porque a Condel pertence ao Prysmian Group, uma multinacional que actua na Europa e produz em Angola com os mesmos padrões de internacionais", afirma. O grupo olha também para a exportação para rentabilizar o negócio, sobretudo para a República do Congo e República Democrática do Congo (RDC), por serem mercados próximos, mas a pandemia impediu a realização de novos investimentos. A fábrica conta com 64 trabalhadores, dos quais 4 são expatriados. De acordo com o gestor, a empresa mantém um número de trabalhadores muito acima do necessário por terem formação específica (difícil de encontrar no mercado nacional). Também é uma forma de precaução, caso a procura aumente nos próximos tempos. Nesta altura, a empresa tem armazém equivalente a 1,5 milhões EUR de cabos eléctricos. Assim como stock de matéria-prima no valor de 1,5 milhão EUR: 750 mil EUR em 80 toneladas de cobre, 114 toneladas de alumínio no valor de 375 mil EUR e 150 toneladas de plástico avaliadas em 375 mil EUR. Por outro lado, o mercado nacional não produz alumínio, cobre, nem plásticos com a qualidade desejada. "Há alguma produção de cobre e alumínio através de sucata mas não é possível produzir cabos eléctricos de alta qualidade dessa forma, apenas com cobre virgem e uma percentagem muito reduzida de sucata", assegura Rui Pinto.
UMA FÁBRICA COM 65 ANOS DE HISTÓRIA
A Condel começou a sua actividade em 1957 pelas mãos de um grupo português e funcionou até 1976 sem interrupções, parou apenas com o início da guerra civil. Em 2001, a empresa foi comprada pelo grupo americano General Cable a partir desta altura passou a ser chamada de General Cable Condel e em 2003, com o advento da paz, lançou um plano de recuperação de infraestruturas da fábrica, de modo a adaptar a operação às exigências da reconstrução nacional. Em 2008, os americanos fizeram um novo investimento de 15 milhões EUR para substituição dos equipamentos de modo a ajustar a tecnologia aos novos tempos e dar o salto para os níveis de produção actuais, assim como aumentar a gama de produtos.
Em 2014, entrou uma nova equipa de gestão com organização autónoma que no ano seguinte investiu em programas de compliance e anticorrupção para atrair novos investidores. A Prysmian Group, uma multinacional italiana, comprou o grupo General Cable e foi assim que a fábrica passou para novas mãos.
Em África, o grupo tem representação na Tunísia e Costa do Marfim. A fábrica do Cazenga ocupa 2,26 hectares de área bruta, 8 mil metros quadrados de área coberta e 5 mil metros quadrados de área de produção. Produz uma vasta gama de cabos eléctricos de baixa tensão, desde cabos com um milímetro quadrado e meio até 400 milímetros com tecnologia de resistência ao fogo. Para as linhas de média tensão produz três variedades de cabos aéreos.
(Leia o artigo integral na edição 666 do Expansão, de sexta-feira, dia 18 de Março de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)