A alavancagem e a hierarquia dos instrumentos de financiamento
Apesar dos riscos envolvidos, a alavancagem continua a ser uma das ferramentas mais eficazes para a gestão do capital empresarial, permitindo acelerar o crescimento e maximizar a rentabilidade dos recursos próprios. Contudo, a sua utilização exige atenção à hierarquia dos instrumentos de financiamento.
A alavancagem financeira ocorre quando uma empresa recorre a capitais de terceiros para financiar as suas operações ou investimentos, com o propósito de aumentar o retorno sobre os capitais próprios. Embora amplie o potencial de rentabilidade para os accionistas, essa prática também acarreta maior exposição ao risco financeiro e ao custo potencial de insolvência. Tecnicamente, a alavancagem mede o grau de utilização de dívida em relação ao capital próprio na estrutura de financiamento da empresa. Quanto maior esse grau, maior o potencial de retorno, mas também o risco.
Apesar dos riscos envolvidos, a alavancagem continua a ser uma das ferramentas mais eficazes para a gestão do capital empresarial, permitindo acelerar o crescimento e maximizar a rentabilidade dos recursos próprios. Contudo, a sua utilização exige atenção à hierarquia dos instrumentos de financiamento, que define a ordem de prioridade na remuneração e reembolso de credores e investidores, sobretudo em cenários de reestruturação ou liquidação.
Neste contexto, torna-se essencial delinear uma estrutura de capital óptima, que equilibre capital próprio e dívida de forma a minimizar o custo médio ponderado de capital ou Weighted Average Cost of Capital (WACC) e maximizar o valor da empresa.
A hierarquia dos instrumentos de financiamento impacta directamente tanto o custo como a atractividade de cada fonte de capital. Entre os principais instrumentos destacam-se:
01. DÍVIDA SÉNIOR
Apresenta prioridade máxima no reembolso, muitas vezes garantida por activos, o que reduz o risco para o credor e, consequentemente, o custo de financiamento.
02. DÍVIDASUBORDINADA
Subordinada à dívida sénior, implica maior risco e, por isso, um custo mais elevado. É comum em estruturas mais agressivas, como as utilizadas em private equity, e permite aumentar o financiamento sem recorrer imediatamente ao capital próprio.
03. INSTRUMENTOS HÍBRIDOS
Combinam características de dívida e capital próprio, como obrigações convertíveis ou acções preferenciais. Podem ser atractivos por evitar a diluição de controlo e, em alguns casos, serem tratados parcialmente como equity pelas agências de rating.
04. CAPITAL PRÓPRIO
Representa a base residual da estrutura de capital, assumindo o maior risco. Apesar de ser a forma mais flexível de financiamento, também é a mais cara, devido às elevadas expectativas de retorno dos investidores.
Empresas financeiramente eficientes constroem a sua estrutura de alavancagem de forma progressiva, respeitando a hierarquia dos instrumentos e os estágios de desenvolvimento do negócio. Em regra, a dívida sénior é utilizada nas fases iniciais devido ao seu custo reduzido, sendo sucedida por dívida subordinada à medida que a capacidade de endividamento diminui. Instrumentos híbridos surgem como alternativas intermediárias, oferecendo flexibilidade e mitigando o risco de diluição. Já o capital próprio é geralmente mobilizado para reforço patrimonial, expansão ou absorção de choques externos.
Esta lógica está alinhada com a Pecking Order Theory, segundo a qual as empresas preferem financiar-se inicialmente com recursos internos, seguidos de dívida, e apenas em última instância com capital próprio - sobretudo em função do custo relativo e da assimetria de informação com o mercado.
O mercado de capitais desempenha um papel central na compatibilização entre alavancagem e hierarquia de financiamento. Ao proporcionar acesso a uma ampla variedade de instrumentos - desde acções a obrigações e produtos híbridos - permite às empresas estruturar o seu passivo de forma estratégica, conforme o seu perfil de risco e maturidade empresarial. Um mercado dinâmico e eficiente contribui para diversificar as fontes de financiamento, reduzir a dependência do sistema bancário, promover transparência na formação de preços e fortalecer a disciplina de mercado, por via das exigências de governação e prestação de contas.
No caso específico de Angola, o fortalecimento do mercado de capitais é fundamental para viabilizar estruturas de financiamento sustentáveis. Isso passa pelo desenvolvimento do mercado de obrigações corporativas, promoção de instrumentos híbridos e elevação da literacia financeira entre investidores, gestores e reguladores.
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*Giovanni Peliganga, gestor de mercados