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Gestão

Quando a máquina começa a fazer contas melhor do que nós

CAPITAL HUMANO

A IA domina a matemática, as emoções continuam a ser o terreno do ser humano. Podemos ter modelos perfeitos e, ainda assim, tomar decisões desastrosas porque alguém entrou em pânico, exagerou no optimismo ou confundiu sorte com competência. A tecnologia ajuda, mas continua a caber-nos interpretar os sinais...

Durante décadas,o sector financeiro viveu de velhos rituais: calculadora na mão, intuição do gestor e uma prece silenciosa para que o Excel não falhasse no momento crítico. Nos últimos anos, a Inteligência Artificial chegou e mudou o jogo, mostrando que tarefas antes vistas como artesanais podem ser feitas de forma mais rápida e precisa do que qualquer equipa humana conseguiria.

A IA já não é aquela promessa futurista discutida apenas por geeks e certos círculos académicos. Hoje, algoritmos varrem milhares de linhas em segundos, encontram padrões que os nossos olhos ignoram e assinalam desvios e erros antes que o auditor tenha tempo de abrir o primeiro dossier. O resultado? Menos erros, mais eficiência e menos custos.

As pequenas empresas são talvez as maiores beneficiárias desta revolução silenciosa. Onde antes faltava orçamento para uma equipa financeira robusta, hoje basta um software com IA bem implementado para tratar das tarefas corriqueiras: lançar facturas, classificar despesas, prever receitas, entre outros. É como contratar um contabilista que não dorme, não tira férias e não se queixa da avença baixa.

Nas grandes corporações, a conversa é outra. A IA está a tornar-se o oráculo moderno para análises preditivas: prevê crises, detecta fraudes, simula cenários de investimento ou calcula riscos de crédito. Antes a tomada de decisão era com base em relatórios trimestrais, agora pode-se testar em segundos "e se o dólar subir?", "e se o petróleo cair?" ou "e se o nosso CEO acordar inspirado e comprar uma concorrente?". A IA não adivinha o futuro, mas aproxima-se dele.

Morgan Housel, famoso investidor e autor de best- -sellers como "A Psicologia do Dinheiro", lembra-nos que "a história financeira é uma mistura de matemática e emoções humanas". A IA domina a matemática, as emoções continuam a ser o terreno do ser humano. Podemos ter modelos perfeitos e ainda assim tomar decisões desastrosas porque alguém entrou em pânico, exagerou no optimismo ou confundiu sorte com competência. A tecnologia ajuda, mas continua a caber- -nos a responsabilidade de interpretar os sinais e resistir ao impulso de repetir os mesmos erros.

No sector financeiro, três área já sentem fortemente o impacto da IA e continuarão a ser transformadas por ela. Primeiro, a gestão de risco, onde algoritmos conseguem detectar fraudes e anomalias antes mesmo de um auditor humano abrir o primeiro ficheiro. Depois, o planeamento estratégico, que combina dados financeiros, tendências de mercado e até rumores das redes sociais para antecipar movimentos e oportunidades.

Por fim, o aconselhamento personalizado, que permite a qualquer empresa, da startup à multinacional, receber recomendações de investimento quase sob medida, como se tivesse um conselheiro financeiro invisível, capaz de traduzir números em decisões práticas.

Mas nem tudo é positivo. A dependência de sistemas automáticos traz riscos de privacidade, segurança e até preguiça intelectual. Quem delega tudo à máquina corre o perigo de esquecer porque é que um número importa. E, convenhamos, não há algoritmo que substitua a capacidade humana de ligar os pontos quando a realidade decide não seguir o manual.

A Inteligência Artificial já se instalou nas finanças. Para uns é risco, para outros é alívio. No entanto, se a história financeira avança por ondas, esta é a maré certa para surfar: deixar que a IA trate da mecânica dos números para que possamos investir o nosso tempo em analisá-los e criar valor.

*ALEXANDRE TEIXEIRA, Director Financeiro da Easy People

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