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Grande Entrevista

"É claro que os bancos estão cada vez menos a financiar a economia"

NAZIM CHARANIA | PCA DO NOBLE GROUP

O PCA do maior conglomerado de investimentos indianos em Angola diz que o Estado não pode dar tudo e que os empresários devem procurar outras alternativas inovando o próprio negócio. Nazim Charania acha que o futuro do País está na agricultura e frisa não estar preocupado com a concorrência.

O grupo Noble entrou em Angola na área do no retalho, no comércio grossista e no abastecimento do comércio informal e rapidamente expandiu a sua área de negócios. Como está subdividido os negócios do grupo?

O Grupo Noble está aqui em Angola já há bastante tempo, há cerca de 24 anos, começamos a fazer comércio no extinto mercado do Roque Santeiro, em Luanda, onde tínhamos vários armazéns. Fazíamos trading e actuávamos também na área do retalho por mais de 10 anos. Depois passamos a investir no ramo industrial, ou seja, deixamos de importar para produzir localmente. Hoje somos proprietários de 10 fábricas e temos mais de 60 marcas e 450 produtos.

Quanto é que o Grupo investiu nessas 10 unidades industriais?

Não consigo dizer-lhe neste momento o valor exacto investido nesses projectos, mas nos últimos 10 anos nós investimos muito nesse País. Para ter uma ideia, só entre 2017 e 2018 nós investimos mais de 185 milhões USD e devo salientar que o País tem muito potencial e precisa de empresários sérios para trabalhar em diferentes sectores, quer seja nas minas, na indústria transformadora ou na agricultura, que considero o futuro de um País.

Mas os empresários queixam-se da falta de financiamento e de apoios por parte do Estado...

Isso é outro problema. Os empresários têm de saber que o Estado não pode dar tudo. É claro que os empresários devem ser apoiados, mas a iniciativa deve ser sua. É claro que os bancos estão cada vez menos a financiar a economia, mas os empresários têm de ser fortes e procurar alternativas, senão morrem.

E muitas empresas têm fechado as portas ...

É uma pena, mas é a lei de mercado na qual os mais fortes ficam e os mais fracos desaparecem. Por isso há sempre necessidade de se procurar novas áreas de investimento com custos mais reduzidos. Os empresários devem adaptar-se à realidade actual do País.

Que tipo de fábricas o grupo tem?

O grupo tem vários tipos de fábricas, desde bebidas, representada pela Bebidas Únicas, que foi fundada em 2015, e actua como um player de destaque na indústria angolana de bebidas destiladas, desde wiskies, vodka, vinhos, entre outros produtos. A fábrica Alimentos Saborosos, fundada em 2022, produz diferentes variedades de biscoitos como o Lykon. A fábrica Future Group, é uma empresa jovem com instalações de última geração que produz água engarrafada Azurr, sumos, bebidas energéticas e refrigerantes como Yala, a Afrimega, fundada em 2018 explora o segmento dos cuidados pessoais, produzindo fraldas, pasta de dentes Special, entre outras.

A construção dessas unidades foi com recurso bancário ou investimento próprio?

Nós sempre trabalhámos com os bancos. Sozinhos não seria possível erguer as infraestruturas que o grupo detém neste momento e até hoje continuamos a pagar dívidas de alguns investimentos feitos anteriormente ao âmbito do Aviso 10 do Banco Nacional de Angola.

Há alguma fábrica que deixou de funcionar?

Todas estão a trabalhar em pleno e sem quaisquer restrições e antes pelo contrário estamos a inovar cada vez mais. Por exemplo, a UB Pallets, é uma das mais novas fábricas nossas fundada em 2023 e é especializada na produção de paletes de plásticos de alta qualidade. Fundada em 2018, a Indústria Noble é líder na produção de embalagens para alimentos básicos como arroz, leite, açúcar, feijão, ervilhas, milho, farinha de trigo, farinha de milho e muito mais. Temos também uma fábrica de cosméticos. A Basel Angola, criada em 2010 é a maior fábrica do País que produz detergentes, produtos de higiene pessoal e domésticos.

E onde estão localizadas essas fábricas?

Na sua maioria estão em Luanda, no Polo Industrial de Viana, no Kikuxi e na ZEE, mas vamos brevemente abrir a FertiÁfrica em Benguela para a produção de fertilizantes, naquela que será a primeira unidade industrial do País a produzir fertilizantes. No próximo ano vamos levar os nossos investimentos a outras províncias.

Que outras marcas fazem parte do vosso portfólio?

Somos um dos maiores produtores de bolachas, ou seja, 45% das marcas e dos produtos produzidos no País são nossos, assim como refrigerantes e sumos Natureza de diferentes sabores produzidos pelo Futuro Group, fábrica que também faz bebidas energéticas da marca Força. Os detergentes Ama, Ultra, Madar, Lava e Glória são todos produzidos por nós. Outras marcas de mossas incluem o arroz Senhorita, Mulher, eletrodomésticos da marca Eicon, Sea Cool. Marcas como Bom Dia, Bom apetite também são nossas.

Que produtos têm sido exportados?

O nosso objectivo é primeiro consolidar o mercado nacional e só depois partir para a exportação, mas alguns produtos como bolachas, bebidas destiladas e refrigerantes são enviados para a República Democrática do Congo (RDC) e Moçambique, bem como fraldas.

Quanto é que vocês arrecadam com essas exportações?

É um valor que não domino, embora são seja substancial já dá para encaixar algumas divisas numa altura em que, como todos sabem, o País carece de moeda estrangeira sobretudo para importação.

Qual é o volume de facturação anual do grupo em Angola?

Trata-se de uma questão confidencial da qual também não domino exactamente, aliás a minha comunicação consigo não pode basear-se somente em números, mas sim no impacto que esses investimentos causaram e vão causar na vida das famílias.

Sente alguma dificuldade no desenvolvimento da sua actividade em função da economia do País marcada por alguma instabilidade?

Em 2015 Angola ficou bastante afectada devido à queda dos preços do petróleo, que resultou numa escassez generalizada de divisas e isso afectou drasticamente os empresários, situação que se verifica até aos dias de hoje. Portanto, a falta de moeda estrangeira é algo que deve ser vista com urgência para que empresários possam desenvolver plenamente a sua actividade na medida em que Angola é um grande importador de matéria-prima para fazer funcionar a sua indústria.

E como tem ultrapassado essa situação, a falta de divisas?

Nós temos feito cartas de crédito aos bancos com uma antecedência de 180 dias para a importação de matéria-prima contra os anteriores 60 dias, por isso temos feito planos semestrais das nossas necessidades de importação para sustentar a nossa indústria.

Leia o artigo integral na edição 842 do Expansão, de Sexta-feira, dia 05 de Setembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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