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Opinião

Editorial 29 - Inflação, Crédito e o FMI

Chancela do CINVESTEC

É comum, em qualquer ciência, simplificar as nossas afirmações, subordinando-as a um dado contexto restritivo; o mesmo se faz em economia. O problema é quando se esquece o contexto e se aplicam cegamente as simplificações.

Como qualquer fenómeno relacionado com o preço, a inflação é, nos seus fundamentos, um problema de relação entre a oferta e a procura. Nesta relação ela depende: da quantidade de moeda (MV), da quantidade de produtos (Q) e do custo de produção, que temos designado por x. Um aumento de MV ou de pressiona o crescimento da inflação; um aumento de Q reduz os preços.

O factor M em Angola é medido através do agregado M2 em moeda nacional (MN). Pretendendo antecipar a inflação, o BNA usa, e bem, a Base Monetária em MN como principal indicador de controlo monetário. No entanto, pensamos que o BNA deveria trabalhar melhor a variável V. Na verdade, não existindo instrumentos financeiros adequados (que são também responsabilidade do BNA), alguns depósitos imobilizam-se no M2. Este fenómeno foi particularmente importante no final de 2020, quando venceu um grande número de OT indexadas. O Tesouro converteu Moeda Externa (ME) em moeda nacional para pagar estes títulos mas, muitas empresas que os detinham, limitaram-se a estacionar o valor recebido, sob a forma de depósitos a prazo, na mais completa imobilidade, aguardando o aparecimento de instrumentos de investimento financeiro atractivos. Satisfazer este desejo de investimento, convertendo-o em capital produtivo, é um dever, ainda não cumprido, do BNA.

Portanto, esse aumento do M2 não teve importância de relevo sobre a procura: aumentou M mas diminuiu V e MV manteve-se. O BNA tem a obrigação de demonstrar isto ao FMI; o FMI tem a obrigação de saber ler o significado dos movimentos no M2 e as variações de V, e de ajudar o BNA na promoção de instrumentos financeiros que transformem esses depósitos parados em capital.

Do lado da oferta, os custos de produção deslocam a curva da oferta para cima; dentre eles são determinantes, no nosso País, os custos de importação.

Desde Outubro de 2020 que o Kwanza se tem mantido constante, em boa parte devido ao já referido fluxo de Moeda Externa do Tesouro para o mercado cambial. O BNA deve manter alguma estabilidade da MN, tendo já demonstrado suficiente capacidade técnica neste capítulo, quando não há interferências externas sobre a sua acção. Um crescimento das importações aumenta a procura de ME no mercado cambial pressionando a depreciação. Se a actuação do BNA não for suficiente para a impedir, os custos das matérias-primas, serviços e produtos finais importados, pressionarão a inflação. Porém, o seu impacto será sempre mitigado pelo peso da componente importada (cerca de 1/4 da oferta ao consumo): o impacto efectivo da depreciação é dividido por 4.

Outros custos de produção, como custos salariais, têm-se mantido completamente estáveis, não tendo contribuído, significativamente, para a inflação. Em 2019 houve um aumento da função pública. Este aumento não contagiou os salários das empresas, tornando-se pouco relevante para a inflação. Apenas acentuou a desigualdade salarial, melhorando a situação relativa dos funcionários públicos, contribuindo, de outro lado, para o aumento da carga "fiscal" sobre o trabalho em geral (IRT e Segurança Social): melhorou a situação dos funcionários públicos em detrimento dos trabalhadores formais, em geral.

*Economista e director do Cinvestec

(Leia o artigo integral na edição 630 do Expansão, de sexta-feira, dia 25 de Junho de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)

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