Emprego digno
Não podemos ter centenas de universidades, milhares de acções de formação, e que depois, não conseguem capacitar as pessoas para exercer as actividades que estão disponíveis na economia. Mas pior, estamos a enganar os nossos jovens, passando-lhe a ideia que estão preparados para "entrarem" no mundo do trabalho, quando na verdade é mentira.
A questão do emprego é, possivelmente, o maior desafio da nossa economia. É chocante que apenas 14% dos angolanos economicamente activos tenham uma relação laboral formal, com tudo o que isso significa em termos de projecto de vida, de crescimento das pessoas, dos sonhos que cada um acarreta para a sua vida. Pode tentar-se arranjar múltiplas justificações para este facto, mas objectivamente é necessário fazer mais. Não pode esconder-se esta situação, que não tem melhorado ao longo dos últimos anos, com cursos de formação ou kits profissionais para novos empreendedores.
A primeira obrigatoriedade é ter pequenas e médias empresas que sejam sólidas e tenham uma actividade estável, e isso não se consegue com um pensamento económico baseado em grandes estruturas, dando benefícios aos grandes porque é politicamente correcto, ou alimentando um desequilíbrio de mercado que põe em causa a livre concorrência, o que muitas vezes acontece para acomodar as empresas dos amigos.
O Governo tem de valorizar as empresas privadas nos diversos sectores, não lhes criar sistematicamente problemas de burocracia ou de controlo excessivo por parte da AGT, que os grandes conseguem ultrapassar com um telefonema para a pessoa certa, mas que para os "outros", os mais pequenos ou os que estão fora dos circuitos das vantagens, acabam por ser muros impossíveis de saltar. O Estado também não pode asfixiar estas empresas com atrasos sucessivos nos pagamentos, com adjudicações directas em crescendo, com leis e exigências completamente desfasadas da nossa realidade. Sem empresas não há emprego.
Depois tem de haver uma aposta clara nas capacidades técnicas e na meritocracia. Não podemos ter centenas de universidades, milhares de acções de formação, e que depois, não conseguem capacitar as pessoas para exercer as actividades que estão disponíveis na economia. Mas pior, estamos a enganar os nossos jovens, passando-lhe a ideia que estão preparados para "entrarem" no mundo do trabalho, quando na verdade é mentira. Se os ministérios, as empresas e instituições públicas tivessem limitações sérias na contratação de consultores estrangeiros, certamente que o Estado como um todo se preocupava mais com a expertise dos angolanos. Além do mau exemplo que passam aos outros agentes económicos.
Depois, há que assumir com frontalidade, os programas de formalização da economia têm sido um fiasco. Interessa a muitos que decidem a manutenção de um grau elevado de informalidade na economia, porque isso significa a ausência de controlo e a possibilidade de ganharem mais dinheiro. E enquanto isso, a geração mais nova, mesmo a mais capaz que não tenha "padrinhos na cozinha", está a fazer as malas e a sair do País. Exactamente porque não tem um emprego condigno que lhe permita ter um projecto de vida. Será que isto só me incomoda a mim...?