Aumentar os salários
É preciso dizer que este sistema não se desenvolveu de forma inocente, pois fazer depender grande parte das remunerações de mordomias, subsídios e prémios que podem ser retirados é uma forma de manter estes profissionais alinhados com a estratégia de quem paga. E de os manter quietos porque que não há ordenados do valor que pagam em posições similares. E sempre se premeia os que são da mesma família e da mesma cor.
É claro que, com este nível de salários, o País nunca se poderá desenvolver. Por um lado, porque não desenvolve um consumo interno capaz de impactar sobre a actividade das empresas nacionais e, por outro, porque o sistema de remunerações que foi desenvolvido nas instituições públicas, de longe os grandes empregadores, premeia os menos capazes e afasta os que mais se esforçam.
Não podemos continuar a pagar a um médico o equivalente a 600 USD, a um professor universitário no máximo 800 USD, manter o salário base de um ministro nos 750 USD e por aí fora. Para se ter uma ideia, o valor em dólares do salário mínimo hoje em Portugal ultrapassa os 850 USD. Tem de ser o Estado a dar o exemplo, a proceder a uma alteração radical na política salarial do País, porque é a única forma de pensar em desenvolvimento. Recordo sempre isto, o "milagre" económico na Índia fez-se com o aumento do consumo interno, dando melhores condições às populações para que elas pudessem comprar mais. Não é o contrário, como nos querem convencer...
Até porque o sistema desenvolveu um sistema perverso de remuneração. Pagar salários baixos, depois oferecer mordomias (lá vêm os automóveis), prémios por avaliação, subsídios regulares de tudo e mais alguma coisa, que no final leva a um perfeito contrassenso - nas profissões de topo (administradores, deputados, técnicos superiores da função pública, etc.) - em média, o salário base face à remuneração mensal recebida, não chega aos 30%. E há casos que é muito menos. Recentemente, fizemos as contas às remunerações pagas nos conselhos de administração das empresas públicas e organismos do Estado e percebemos, por exemplo, que há casos em que o salário base é 600 mil Kz mas o recebimento mensal chega aos 8 milhões Kz.
Também é preciso dizer que este sistema não se desenvolveu de forma inocente, pois fazer depender grande parte das remunerações de mordomias, subsídios e prémios que podem ser retirados é uma forma de manter estes profissionais alinhados com a estratégia de quem paga. E de os manter quietos porque que não há ordenados do valor que pagam em posições similares. E sempre se premeia os que são da mesma família e da mesma cor.
Definitivamente, o Estado tem de aumentar substancialmente os salários dos angolanos, acabar com o truque das mordomias, dos subsídios e dos prémios, exigindo em contrapartida aos trabalhadores foco e objectivos. Isso iria ajudar a estancar a saída em massa dos nossos quadros médios para o estrangeiro, um movimento que está a hipotecar o futuro do País. Não vale a pena pensar de outra forma!