O sofrimento económico em 2024 foi maior para os jovens e mulheres
Em 2024, o sofrimento das mulheres angolanas aumentou em 2,31 pp (entre o I e IV trimestre) ao passo que para os homens registamos uma redução de 3,6 pp. Isso deve-se a uma redução de 5 pp no desemprego dos homens, ao passo que entre as mulheres registamos um ligeiro aumento no desemprego de 0,9 pp. Este dado é relevante já que mostra que o sofrimento económico em Angola não é neutro e igual para todos. Os jovens e as mulheres são os que mais sofrem no actual contexto.
Em Abril o INE divulgou a Folha de Informação Rápida do Inquérito ao Emprego em Angola (doravante IEA) referente ao IV Trimestre de 2024. A publicação deste relatório permite-nos fazer duas coisas, a saber: calcular o Índice de Sofrimento Económico de Angola referente ao IV trimestre e ver qual foi a tendência do Sofrimento Económico em Angola no ano de 2024.
Antes de darmos início a este exercício, vale recordar mais uma vez que o Índice de Sofrimento Económico de Angola, visa mostrar a "dor sentida pelo cidadão" e não medir o desempenho da economia como tal. Isso é feito através de um procedimento simples desenvolvido pelo economista norte-americano Arthur Okun. Somamos a taxa de desemprego, no IEA, com a inflação dos últimos 12 meses publicada também pelo INE. Este índice permite a governação dedicar atenção na resolução contínua de dois grandes males que afectam a qualidade de vida dos angolanos: a inflação e o desemprego.
Como nota prévia, precisamos assinalar que mais uma vez o INE mudou os dados referentes ao desemprego por residência no III Trimestre sem uma explicação plausível. No relatório anterior o desemprego urbano foi de 33,9% e o rural 25,4%. Neste relatório referente ao IV Trimestre estes dados passaram para 36,9% para o desemprego urbano (um aumento de 3 pp) e 18,1% para o rural (uma redução injustificada de 7.3 pp). Essa alteração, tal como explicamos num outro texto, põe mais uma vez em causa a fiabilidade das estatísticas produzidas em Angola. Acreditamos que sempre que houver alteração nos dados anteriormente divulgados, o INE precisa vir a público explicar a razão de tais mudanças sob pena de colocar em causa a credibilidade da informação divulgada.
Analisando o comportamento do Índice de Sofrimento Económico de Angola, vemos que no IV trimestre a pontuação foi de 57,9%, uma redução de 2,8 pp versus o relatório do III trimestre, o que é bastante positivo (Gráfico 1). Esta melhoria deve- -se essencialmente à redução da inflação em 2.43 pp no mesmo período. Porém, no cômputo geral, vemos que o sofrimento económico de 57,9% no IV trimestre de 2024 foi superior em 6 pp ao sofrimento do IV trimestre de 2023 e 14,4 pp acima do sofrimento do IV trimestre de 2022. Estes dados ajudam a compreender o desconforto social que hoje se assiste em Angola.
No que toca aos grupos etários, vemos no Gráfico 2 abaixo que o sofrimento económico dos jovens (15-24 anos) continua muito alto, acima dos 80%. Todavia, podemos igualmente ver uma redução contínua desde o I trimestre, o que é positivo.
Os dados do Gráfico 2 permitem-nos perceber melhor a recente sondagem da Afrobarometer, segundo a qual 66% dos jovens (18-25 anos) angolanos "são consideravelmente mais susceptíveis de pensar em sair do país" . Afinal, com um nível de sofrimento económico acima dos 80% e na ausência de políticas capazes de reverterem este quadro, os jovens angolanos vêm-se forçados a procurar novas oportunidades no exterior do País.
Em 2024, tal como mostra o Gráfico 3, o sofrimento das mulheres angolanas aumentou em 2,31 pp (entre o I e IV trimestre) ao passo que para os homens registamos uma redução de 3,6 pp. Isso deve-se a uma redução de 5 pp no desemprego dos homens, ao passo que entre as mulheres registamos um ligeiro aumento no desemprego de 0,9 pp. Este dado é relevante já que mostra que o sofrimento económico em Angola não é neutro e igual para todos. Os jovens e as mulheres são os que mais sofrem no actual contexto.
Quanto à zona da residência, os dados no Gráfico n.º 4 mostram que o sofrimento económico é bem menor no campo do que nas cidades. No IV trimestre o sofrimento urbano diminuiu em 3,5 pp vs ao registado no III trimestre. No meio rural houve um ligeiro aumento de 0,2 pp. Contudo, olhando para o comportamento anual registado vemos que no meio rural houve uma redução de 10,3 pp durante o ano de 2024. Essa redução está ligada à já mencionada alteração que o INE fez aos dados do desemprego no meio rural referentes ao III trimestre, no relatório do IV trimestre. Assim sendo, hoje se és jovem, mulher e vives numa cidade existe uma grande possibilidade do teu sofrimento económico ser maior do que o resto da população!
Enfim, os dados analisados até aqui mostram que o sofrimento económico em Angola, de uma forma geral, tem estado a diminuir desde o II trimestre de 2024. Todavia, para alguns grupos específicos como os jovens (15-24 anos) e mulheres, essa redução não está a ocorrer na velocidade desejada. Isto acontece porque o desemprego para estes dois grupos no IV trimestre foi ainda muito alto, 54,4% para os jovens (baixando de 63,5% no I trimestre) e 32,3% (vs 31,4% no I trimestre) para as mulheres. A solução para a governação passa por criar condições para que haja um aumento da actividade económica no País, contudo, tal só será possível quando houver uma maior liberdade económica.