Quando a CrowdStrike decidiu actualizar o seu antivírus no software Windows, a 19 de Julho de 2024, ninguém poderia prever que um simples clique desencadearia um evento cataclísmico, quase um apocalipse global. Literalmente, quase tudo parou - caos nos aeroportos, comboios, cancelamento de cirurgias - apenas para citar algumas das consequências de uma única falha que fez reféns milhões de pessoas em todo o mundo.

Este incidente foi causado por uma actualização defeituosa de um sensor que provocou uma falha de memória nos sistemas Windows, resultando em ecrãs azuis e reinicializações contínuas. Este evento não apenas "destapou" a vulnerabilidade dos sistemas centralizados, como também sublinhou a extrema dependência que temos de infraestruturas críticas geridas por um número reduzido de entidades. A centralização, embora eficiente sob determinadas condições, revelou-se perigosa, expondo sociedades inteiras a falhas massivas que afectam a vida quotidiana de milhões.

A Vulnerabilidade dos sistemas centralizados

Num mundo cada vez mais digital e interconectado, as infraestruturas críticas estão frequentemente concentradas nas mãos de poucas organizações. Esta concentração de poder e controlo torna a sociedade global vulnerável não apenas a falhas técnicas, mas também a ataques cibernéticos, desastres naturais e até falhas humanas. A falha da CrowdStrike é apenas um exemplo de como uma dependência excessiva de um ponto único de controlo pode resultar em consequências catastróficas. O impacto de tal falha é amplificado numa era em que sistemas bancários, redes de transportes, e até governos dependem de infraestruturas digitais centralizadas.

Este episódio sublinha a necessidade urgente de repensar como estruturamos e protegemos estas infraestruturas críticas. Neste contexto, a blockchain emerge como uma tecnologia capaz de mitigar alguns dos riscos associados à centralização, ao mesmo tempo em que oferece novas oportunidades para melhorar a resiliência e segurança dos sistemas digitais.

Blockchain: uma alternativa descentralizada

A blockchain, é uma tecnologia de registo distribuído que oferece uma solução promissora para os desafios que enfrentamos num mundo cada vez mais centralizado. A principal força da blockchain reside na sua estrutura descentralizada. Ao contrário dos sistemas centralizados, onde um único ponto de falha pode comprometer todo o sistema, a blockchain opera através de uma rede de nós independentes. Estes nós verificam e registam transacções de forma consensual, garantindo que a integridade e disponibilidade dos dados não dependem de uma única entidade.

Vantagens de segurança e resiliência

Primeiro, a blockchain reduz significativamente a probabilidade de falhas catastróficas. Como a informação é replicada através de múltiplos nós, a falha de um ou mesmo de vários nós não compromete a integridade do sistema como um todo. Isto torna a blockchain altamente resistente a ataques cibernéticos, pois não há um único ponto de falha que possa ser explorado.

Segundo, as transacções registadas numa blockchain são imutáveis e auditáveis. Uma vez que uma transacção é registada, ela não pode ser alterada ou eliminada, o que aumenta a transparência e a confiança nos sistemas que utilizam essa tecnologia. Isto é particularmente útil em sectores onde a integridade dos dados é crucial, como nas finanças.

Além disso, a blockchain permite uma melhor distribuição do poder. Em vez de confiar numa entidade central para gerir e controlar o sistema, a mesma distribui essa responsabilidade por todos os participantes da rede. Isto não só aumenta a resiliência, como também promove uma maior confiança entre os utilizadores, já que nenhuma entidade pode manipular ou controlar unilateralmente o sistema.

Aplicações práticas do Blockchain

O potencial da blockchain não se limita a um único sector; ela pode ser aplicada numa vasta gama de indústrias, cada uma com as suas próprias necessidades e desafios específicos. Nas finanças, por exemplo, as criptomoedas baseadas em blockchain, como a Bitcoin, oferecem uma alternativa aos sistemas bancários tradicionais. Elas permitem transacções peer-to- -peer sem a necessidade de intermediários, o que pode reduzir custos e aumentar a eficiência. Na logística, a blockchain pode rastrear o movimento de mercadorias em tempo real, aumentando a eficiência e reduzindo fraudes. Empresas como a IBM e a Maersk já estão a utilizar blockchain para criar cadeias de abastecimento mais transparentes e eficientes.

Leia o artigo integral na edição 793 do Expansão, de sexta-feira, dia 13 de Setembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)