"Queria ser engenheiro agrónomo, no fundo ainda alimento esta realização"
O primeiro sonho era a agronomia mas depois surgiu a música, que ganhou a batalha até hoje e se tornou na dádiva da sua vida. Aliás, Euclides da Lomba sublinha que foi por via da música que garantiu as suas realizações pessoais e o sustento do actual director nacional da Cultura.
O Euclides da Lomba vem de uma família numerosa
Somos muitos irmãos, numa família comandada por senhoras (risos). A determinada altura me senti privilegiado porque nasci no meio de oito meninas. Não sou de uma família rica mas também não sou de uma família que sofreu muito, era moderada. Como cresci no meio de mulheres recebi muito carinho.
Era tratado como cassule?
Muito mais do que isso. Tive algumas liberdades e privilégios que os outros rapazes da minha idade não tiveram. Do género, os trabalhos de casa (risos).
Mas aprendeu a lavar a louça, ao menos?
Só depois. Depois da 6ª classe fui para Cuba com uma bolsa e lá a educação é muito exigente, fomos para a Ilha da Juventude e tivemos que aprender de tudo.
E foi assim que nasceu o músico?
Não. Na chegada ficamos concentrados na escola 50 onde fomos submetidos a tratamentos brutais contra as doenças tropicais, como o paludismo, mas com tratamentos muito violentos. Depois fui para a 41 onde fiz a 7ª e 8ª classe. Segui para a 42 onde fiz da 10ª à 12ª classe. E dentro do regime de encaminhamento, mesmo sem ser o curso que queríamos, fui encaminhado para a educação musical pelo instituto superior pedagógico Henriques José Varones.
A educação musical foi apenas um acaso?
Mais ao menos, porque não era a minha opção, simplesmente não tive escolha. Devo dizer que eu queria ser engenheiro agrónomo e, no fundo, ainda alimento essa realização.
Ainda pretende concretizar esta realização?
Sim, a qualquer momento posso realizar isso. Embora já tenha 56 anos (risos).
Nunca é tarde para realizar um sonho...
E para mim também não será. Sempre desejei ter uma vida de campo, mesmo. Mas a música não surgiu apenas quando esteve em Cuba. Não. A música surgiu muito antes. Já participava em acampamentos que fazíamos dentro do plano de férias, aliás, isto levou-me a algumas províncias do País e mesmo outros países. Por exemplo, conheci o Lubango, mesmo Luanda conheci também por meio dos acampamentos onde cantávamos, dançávamos e declamávamos poesia, mas parecia que já estava predestinado também devido à vertente artística da minha família.
Chegou a ser influenciado?
Nem precisei de ser influenciado, as coisas aconteceram naturalmente. E em Cuba continuei com a música, a fazer barulho com os meus colegas, na hora de dormir. O pessoal às vezes reclamava do barulho mas quando não cantássemos sentiam falta e até questionavam: hoje não tem serenata!? Ainda não sabia tocar guitarra e aprendi. No nosso meio era o Gabriel, o Bernardo Cassinda, o Machado. Éramos muitos e fomos aprendendo as coisas.
Já contou que é tímido. A música ajudou?
Sempre fui muito tranquilo, tímido, introvertido e envergonhado, mas não queira saber a liberdade que senti quando passei a associar- -me à música e ao desporto, aliás joguei futebol, andebol e corria muito, principalmente no meio-fundo.
Mas nunca percebemos esta timidez...
Há muita timidez (risos) e deixa contar que hoje ainda sinto aquele friozinho na barriga antes de subir ao palco. E esta é a parte em que não devemos nos esquecer que somos humanos e falíveis.
Podemos dizer que a música o escolheu?
Sim. A música é o caminho que Deus me orientou para marcar de alguma forma. A música tem sido a única forma de realização pessoal como a casa própria, algum conforto familiar. Às vezes até é a música que sustenta o director nacional. É difícil perceber isto. Mas se existe algum conforto e estabilidade foi a música que me deu.
Antes de chegar a director nacional da Cultura foi diplomata, também cantou durante esse período?
Sim, porque a vida de diplomata te impede de realizar outras actividades. E tenho muito a agradecer ao General Pedro Sebastião que nos indicou. É um general amigo por quem ganhei maior estima, que permitiu que a nossa colocação fosse efectivada na Itália.
(Leia o artigo integral na edição 663 do Expansão, de sexta-feira, dia 25 de Fevereiro de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)