Os kupapatas do poder
São respeitados e ouvidos a cada escolha ou nomeação. Têm sempre um grupo de candidatos "treinados" para avançar, o que nestes tempos se tornou mais fácil, porque existem muitos que estão dispostos a tudo para chegarem aos cargos de topo que lhes permitam ter as benesses capazes de saciar a sua voracidade de consumo.
No nossa sociedade existem pessoas que transportam outras pessoas para os cargos sonhados, sejam posições de topo dos ministérios, da Administração Pública ou das empresas públicas. São conhecedores profundos dos circuitos do poder, estão bem posicionados no partido da maioria ou na presidência, sabem dos procedimentos de nomeação e gozam da confiança de grande parte dos gestores de topo do País. Porque foram eles que também os colocaram lá, ou que, pelo menos, iniciaram o processo de ascensão de ditas figuras. Diremos que são os kupapatas do poder, transportam os mais ambiciosos para o topo da hierarquia social de forma mais rápida e, na verdade, são fundamentais para o que é hoje o organigrama do poder no País.
São discretos, dificilmente reconhecidos pela opinião pública, não ambicionam ser líderes, estão ligados a muitas estruturas por cargos que não aparecem nos relatórios e contas das empresas ou nos sites oficiais dos ministérios e presidência, mas decidem. Têm um passado ligado ao partido do poder, beneficiam dessa mistura entre o partido e o Estado, e com o passar dos anos já têm os seus ex- -passageiros colocados em lugares-chave. Por isso, torna-se fácil este transporte de um lugar de direcção de departamento para ministro ou para administrador de uma empresa pública.
São respeitados e ouvidos a cada escolha ou nomeação. Têm sempre um grupo de candidatos "treinados" para avançar, o que nestes tempos se tornou mais fácil, porque existem muitos que estão dispostos a tudo para chegarem aos cargos de topo que lhes permitam ter as benesses capazes de saciar a sua voracidade de consumo. Isto acontece porque se alimenta no Estado a estratégia de ordenados baixos e benefícios milionários, mas também porque a aplicação da meritocracia na "máquina" estatal ainda é uma miragem. Salvo honrosas excepções, os tais lugares ganham-se por lobby e influências, o que deu maior importância a estes kupapatas.
Mas existem condições para os possíveis candidatos, fundamentalmente compromisso forte com os tais "transportadores", que passa muitas vezes por relações de dependência ou de receio. Receio que seja tornado público este ou aquele segredo, este ou aquele desvio feito de forma voluntária ou involuntária. Mas sem esta dependência não é possível ser transportado. Estes kupapatas não transportam ninguém que tenha a folha completamente limpa e que no futuro seja inatacável. Esses, os de folha limpa que chegam mais alto, normalmente duram pouco tempo nos cargos e saem. Chegaram lá por mérito e por acaso, e são os mesmo kupapatas que os transportam para baixo.
Pode perguntar-se o que ganham estes kupapatas? Em primeiro lugar poder. Porque, na verdade, decidem ou influenciam as decisões mais importantes do País. Depois, a confiança dos políticos e gestores de topo, que por acréscimo trazem facilidades para a sua vida e para os seus projectos pessoais. Por último, esse desejo supremo de ter acesso aos mais altos benefícios sem que ninguém saiba ou dê por isso.