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"Alguém está errado e não está a valorizar o teatro, mas não somos nós"

FLÁVIO FERRÃO

É fundador do grupo "HenriqueArtes" mas agora apenas exerce funções de director e encenador. Antes só escrevia para o seu grupo, hoje está mais aberto a colaborar com outras companhias. Defende maior atenção para o teatro, para que este cumpra a sua função na sociedade.

marcou o Sul"?

Foi uma inspiração na peça do Shaka Zulu e queria muito fazer algo nosso, mas próximo do Shaka Zulu. Como tenho parentes no Lubango, lembrei-me de falar com a minha prima e amiga Gisela Borges, que também é jornalista da TPA. Ela ajudou-me com toda a informação dos nhaneka-humbi. Então criei a história. Muita gente pensa que a ideia original foi minha, mas não é verdade. A peça foi inspirada no Shaka Zulu.

É de origem nhaneka-humbi?

Não, não sou, mas tenho parentes e conheço muita gente de lá.

Porque escolheu esta cultura para retratar na sua peça?

Foi apenas coincidência, escolhi os nhaneka como podia escolher outro povo para esta história.

Não é a primeira vez que o espectáculo sobe ao palco?

A peça é de 2003. Já lá vão quase 20 anos. Esta é uma nova roupagem. Sinto que cresci neste aspecto, porque percebi que podia mudar o rumo da história com algumas inovações. A primeira vez foi apresentada pelo Henrique Artes.

Quais continuam a ser as maiores dificuldades para a classe?

Falta de vontade política. É que não se olha para o teatro como um caminho para formar pessoas. Os jovens estão aí a dar o seu melhor, mas parece que, para os que vão decidir, o esforço continua a ser pouco. Não imaginam o esforço que foi juntar perto de 40 pessoas para "A história que marcou o Sul". Os actores vivem do espectáculo, dos ganhos do espectáculo. Os jovens querem evoluir e dão tudo de si para isto, mas falta a atenção institucional. Estamos a falar de muitos outros grupos que apresentaram espectáculos de grande dimensão, bonitos, que animaram o público e não têm apoio nenhum.

Este apoio não aparece por falta de vontade ou apenas porque não faz parte das prioridades?

Não sei lhe responder a isto, se é falta de vontade ou porque existem outras prioridades. Mas o que sabemos é que os jovens estão aí a mostrar trabalho. Ou, se calhar, são as duas coisas, porque há vontade para realizar outras prioridades culturais.

Quais?

Como os concursos de misses, por exemplo. Deixe que lhe diga, o espectáculo "A história que marcou o Sul" devia ter apoios para viajar o País e romper fronteiras, mas nem sequer tivemos o básico.

Trabalharam sem patrocínios?

Trabalhamos sem patrocínios. E acredite que saímos do espectáculo com dívidas. Sim, mesmo quando a peça devia ser a bandeira de Angola além-fronteiras. O Executivo, através das suas Embaixadas, devia interessar-se em promover a cultura e as artes, não só o nosso trabalho mas tantos outros. O poder político tem que olhar com interesse para nós e dar a mão.

Ao menos solicitaram patrocínios?

Sim, aliás, noutras peças já tivemos patrocínios, apenas nesta peça é que não e temos que ter em conta que este espectáculo é uma produção gigante. A nível de actores é muito puxado, são quase 40 actores. É muita gente para os almoços durante os ensaios, as águas. Enfim, só para os almoços foi uma logística muito grande. Até chegarmos ao palco investimos bastante. Tenho que tirar o chapéu à Sofia Buco pelo trabalho que desenvolveu.

Se receber mais atenção, para onde pode crescer o teatro nacional?

Não sou especialista em economia, mas posso ter noção daquilo que o teatro pode render à economia. Só na Samba podes encontrar mais de 100 grupos de teatro, no Rangel outros 100 grupos de teatro, ou seja, em todos os municípios de Luanda faz-se teatro. Mas não tens salas. Se todos os municípios tivessem salas, uma vez que o teatro se faz de segunda a segunda, é óbvio que traria receitas e isto teria impacto na economia.

Sem falar das demais províncias.

Benguela, Cabinda e Huambo têm teatro. Só o facto de existirem infraestruturas nestes locais já iria trazer impacto económico. Em Luanda, os grupos da Samba podiam ir ao Rangel e vice-versa e todo mundo iria beneficiar do impacto que isto teria na economia. Já houve espectáculos do Henrique Artes em que a sala lotou, o mesmo já aconteceu com outros colegas. Não tem impacto na economia? Tem. Agora é preciso que a Lei do Mecenato seja posta em prática.

(Leia o artigo integral na edição 700 do Expansão, de sexta-feira, dia 11 de Novembro de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)