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Opinião

O caminho é para a frente

CONVIDADA

O caminho é para a frente, e Angola precisa de decidir. Decisões que ultrapassem o imediatismo. Mas talvez a maior decisão de todas seja aprender a escutar melhor "a voz do patrão": o povo! O poder e legitimidade de qualquer governo residem na sua capacidade de ouvir, compreender e responder às necessidades dos cidadãos.

O caminho é, indubitavelmente, para a frente. Contudo, o futuro não pode ser construído ignorando as lições do passado recente. As últimas décadas demonstraram, de forma inequívoca, que o contrato social ou pacto social herdado dos últimos 50 anos está esgotado. As independências políticas, conquistadas com sacrifício e esperança, não se traduziram em emancipação económica nem em desenvolvimento social sustentável. Angola é hoje um país jovem, vibrante, com uma população estimada entre 32 e 37 milhões de habitantes, dos quais cerca de 75% têm menos de 30 anos. O país possui uma das estruturas etárias mais jovens do mundo, mas profundamente desigual. Conforme dados da Universidade Católica de Angola, a taxa de pobreza aumentou de 41,7% em 2019 (cerca de 12 milhões de pessoas) para 49,4% em 2022 (mais de 16 milhões) (49,4%), e mais 57% revelam a vontade de emigrar. Nesta encruzilhada histórica dos 50 anos, estes números revelam um paradoxo doloroso: uma juventude abundante, mas com oportunidades escassas; uma riqueza potencial, mas com crescimento excludente. Empobrecer não é glorioso! A pobreza é o resultado das escolhas e de decisões de política económica baseado na exploração de recursos naturais a favor de uma elite e na dependência de fluxos externos com custos cada dia mais gravosos e este modelo económico mostra sinais claros de esgotamento. A celebre frase de Albert Einstein "Insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes", encaixa-se bem no caso de Angola, pois não é possível manter o modelo económico actual excludente e predatório com consequências sociais mais do que visíveis. Os laureados com o prémio Nobel de Economia 2025 defenderam que a verdadeira reconciliação entre crescimento económico e restrições ambientais, exige uma nova onda de inovação disruptiva não apenas tecnológica, mas também institucional, social e de modelos de valor. O futuro não pertence a quem extrai mais, mas a quem inventa melhor. Em síntese, os laureados na sua contribuição redefinem que o papel da política económica, passe de mera gestora de escassez a orquestradora de abundância inteligente. Não se pode forjar prosperidade com a mentalidade de combate à pobreza, isso requer uma outra mentalidade, uma outra visão, uma outra forma de fazer política económica. A mensagem dos Prémio Nobel de Economia 2025 é clara, o progresso do século XXI não será medido pela quantidade de recursos explorados, mas pela capacidade humana de transformar limites em possibilidades. E mais uma vez, como começamos, as pessoas estão no centro da criação de prosperidade. Angola precisa não apenas de diversificar a economia, mas de se reinventar através de um novo contrato social assente em legitimidade económica, inclusão produtiva e redistribuição justa. Assim como nas empresas, Angola precisa de uma nova visão, missão e valores para que as pessoas se revejam nesse propósito nos próximos 50 anos. Então inspiremo-nos em Winston Churchill, "Nunca desperdice uma boa crise, as crises são momentos de dor, mas também de oportunidade". Angola vive hoje um momento decisivo. As dificuldades económicas, sociais e institucionais que o país enfrenta não devem ser vistas apenas como sinais de fraqueza, mas como um convite à transformação. As crises expõem fragilidades, é certo, mas também revelam capacidades escondidas e despertam talentos adormecidos. É precisamente quando o chão parece faltar que surgem palavras e acções que inspiram as ideias e as decisões que podem redefinir o rumo da nação. Isto está a acontecer na Namíbia. Em Angola, hoje não se escutam palavras e muito menos acções de encorajamento de inclusão. Confiança é o activo que falta para que as palavras de força ao empreendedorismo não se esbarrem em barreiras burocráticas, inspeções e impostos sem fim.. Um inquérito realizado pela Jeune Afrique em Angola e noutros 46 países africanos entre 11 de Agosto e 8 de Setembro de 2025, revela que as elites angolanas estão particularmente pessimistas em relação ao futuro político,"(uii 34%), que percepcionam como opaco e gerador de ansiedade ". Esta é uma informação importante, visto que, tanto as elites como a juventude impaciente, demonstram precisar de espaço para empreender. Sim, o futuro é um dia de cada vez como diz Arnaldo Santos, mas o primeiro passo precisa de ser hoje. Sim! O caminho é para a frente, e Angola precisa de decidir. Decisões que ultrapassem o imediatismo e que olhem para o futuro com coragem e realismo. Mas talvez a maior decisão de todas seja aprender a escutar melhor "a voz do patrão": o povo! O verdadeiro poder e legitimidade de qualquer governo residem na sua capacidade de ouvir, compreender e responder às necessidades dos cidadãos. Escutar a voz popular não é sinal de fraqueza, mas de sabedoria. É a base da boa governação e da construção de um novo contrato social para os próximos 50 anos.

*NAIOLE COHEN, Strategic Board Advisory | Cofounder at EY | ACGA - Angolan Corporate Governance Association

Edição 856 do Expansão, sexta-feira, dia 12 de Dezembro de 2025

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