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"Dediquei parte do meu trajecto à vida militar e não me arrependo"

Paulo do Amaral, artista plástico

Paulo do Amaral inaugurou a exposição individual "100 Kigila na galeria Tamar Golan. Com uma veia ligada ao Jazz, cumpriu vida militar e está orgulhoso disso. Nas suas exposições gosta de juntar várias artes para que cada uma delas complete a outra. Defende que um país sem cultura é um país sem alma, por isso, é preciso olhar para ela.

Como surgiu o projecto "100 Kigila"?

Hoje sou uma pessoa, talvez por causa da idade, mas ainda não sou velho (risos), que dá mais valor às coisas pequenas. Acho que às vezes complicamos muito as coisas na nossa vida porque "kigilamos" tudo. Muitas vezes não há problemas, nós é que criamos, é tudo fruto da nossa imaginação. E hoje, com a experiência que tenho, começo a achar que as coisas mais bonitas são as mais simples.

O "100 Kigila" é isto, criar boas vibes, boas energias. Levar a vida sem problemas?

Por exemplo, não tenho aquela complicação sobre ter 100 pares de calçados e não saber o que escolher. Isto porque estou-me a tornar cada vez mais minimalista no meu consumo e na atitude. Digamos que estou a "deskigilar" a minha vida, estou a me libertar dos problemas. O telefone caiu na água!? Sem makas vou dar um mergulho, andar um pouco por ai.

Quantos quadros produziu para este projecto?

São 42 obras. O primeiro quadro chama-se "Com kigila" e o último "100 kigila". Então, a ideia é que as pessoas saiam dali "sem kigilas".

Todos foram trabalhados para esta exposição?

Não. Alguns quadros são de outras exposições mais antigas, épocas de várias temporadas. O "100 Kigila" surgiu assim: o Xavier da galeria mandou um convite para fazer a exposição. E coincidiu com o Fábio da banda de rock Silk N"Roots, que me ligou para dizer que nunca mais fizemos coisas juntos. Aliás, nas minhas actividades gosto sempre de juntar várias artes, porque acho que elas complementam-se umas às outras.

Também é uma forma de as pessoas ficarem mais tempo na exposição?

Sim. Porque tu dás uma volta e já viste todos os quadros. Então vamos ouvir música, neste caso, e depois podemos nos lembrar de voltar a olhar para um quadro interessante, ficar à conversa. Por isso as artes acabam por se fundir.

Quando é que começou a pintar?

Comecei a pintar em 1988, consequência da vida. Na altura desenhava num gabinete de arquitectura e comecei a criar os primeiros traços na base das canetas Rotring. Mais tarde senti necessidade de transportar estes traços para maiores dimensões.

Mas não pinta com pincéis comuns, certo?

Não. Fiquei um pouco bloqueado porque o pincel não tinha a mesma frequência e rotatividada Rotring, então inventei os meus pincéis. Pinto com garrafas de água mineral.

Como assim?

Ponho a tinta dentro da garrafa de água e faço um "furinho" na tampa. É um dos instrumentos que uso com muita frequência.

Mas porquê?

Porque o pincel na segunda rodada já não tem a tinta necessária e tinha que molhar outra vez o pincel, e a minha pintura é muito fulminante, digamos. Preciso de ter algo disponível na hora, porque a ideia surge muito rápido , então tenho necessidade que a tinta não seja um bloqueador.

Já viveu um período de pausa na produção artística?

Sim. Foram cerca de sete anos, em que estive a fazer outras coisas, vivi outras experiências, trabalhei com um tio, fui militar, toquei numa banda de Jazz, estu[1]dava no Makarenko, tudo em simultâneo. Então foi um processo de vários aprendizados.

(Leia o artigo integral na edição 674 do Expansão, de sexta-feira, dia 13 de Maio de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)