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Angola

Linhas curtas nos táxis agravam custos e isolam periferias da cidade de Luanda

MAIS CUSTOS E MAIS TEMPO NO TRÂNSITO

As chamadas linhas curtas reduzem o trajecto de uma corrida, quer em tempo quer em quilometragem. O GPL, em coordenação com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), é responsável pela definição e fiscalização das rotas. Os cidadãos queixam-se dos preços da "corrida".

O novo mapa de rotas de táxi definido pelo Governo Provincial de Luanda (GPL) está a "autorizar", na prática, a proliferação de linhas curtas no serviço dos táxis "azuis e brancos", com impacto directo no bolso dos passageiros e no tempo de deslocação entre a periferia e o centro da cidade. Entre 2016 e 2024, o número de rotas passou de 177 para 274, mas esse aumento veio acompanhado do encurtamento de vários percursos tradicionais e da retirada de importantes ligações intermunicipais.

As chamadas linhas curtas reduzem o trajecto de uma corrida, quer em tempo quer em quilometragem. O GPL, em coordenação com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), é responsável pela definição e fiscalização das rotas.

O novo mapa, publicado em Maio de 2025, estabelece o preço fixo de 300 Kz por viagem até 16 quilómetros, conforme o Decreto Executivo Conjunto n.º 402/14 e o Decreto Presidencial n.º 128/10. Antes, quando o percurso ultrapassava os 16 Km, era acrescentado um valor proporcional à distância. Por exemplo, a viagem Benfica-Gamek (14 Km) custava 150 Kz, e o prolongamento até ao Aeroporto 4 de Fevereiro (mais 7 Km) exigia o acréscimo de 50 Kz, totalizando 200 Kz. Hoje, essa ligação desapareceu do mapa oficial.

GPL nega encurtamento

O GPL rejeita que o novo plano incentive linhas curtas. Segundo Sérgio Sachicuata, director dos Transportes, Tráfego e Mobilidade Urbana, "as linhas não foram encurtadas, é uma questão de compreensão do novo mapa e da interpretação do comunicado da ANTT. A corrida sempre foi fixada até 16 Km. Não seria o Estado a promover algo que prejudica as populações".

No entanto, a comparação entre os mapas de 2016-2024 e o de 2025 revela o contrário. Desapareceram ligações estruturantes entre a periferia e os centros urbanos, nomeadamente as rotas Benfica-Mutamba, Cacuaco- -Largo Primeiro de Maio e Viana-Mutamba. São trajectos procurados por trabalhadores e estudantes que dependem dos transportes públicos para chegar às zonas de maior oferta de emprego e serviços.

A ligação de 21 Km entre o Benfica e o Aeroporto 4 de Fevereiro é o exemplo mais emblemático. Classificada como "importante" pelos utilizadores, foi retirada do novo mapa, tornando a deslocação entre o sul e o centro de Luanda cada vez mais demorada e cara.

Percursos caros e demorados

O Expansão testou a viagem Benfica-Aeroporto e confirmou as dificuldades. Às 6h00, na paragem do BAI, centenas de pessoas esperavam transporte. O trajecto até ao Instituto Nacional de Estatística, via "ponte amarela", demorou duas horas. Para completar o percurso até ao aeroporto, foi necessário recorrer a três táxis distintos - um custo total de 900 Kz. O cenário repete-se no regresso ao final do dia, agravado pelo facto de muitos taxistas abandonarem a actividade por volta das 18h00, em plena "hora de ponta". " Vivo no Benfica e uso esta rota há muitos anos. Antes gastava 8 mil Kz por mês, pagando 200 Kz por viagem. Agora, chego a gastar 900 Kz de manhã e 600 Kz à tarde. São 30 mil Kz só em táxi. Está muito difícil", lamenta António Pedro, trabalhador.

Custos operacionais empurram para linhas curtas

A prática das linhas curtas não é nova. Em 2024, quando o preço da corrida subiu para 200 Kz, o presidente da Associação Nacional dos Taxistas de Angola (ANATA), Francisco Paciente, defendeu a revisão do mapa para reduzir a especulação.

Ainda assim, o novo plano não eliminou o problema. Taxistas ouvidos pelo Expansão apontam vários factores: subida do preço dos combustíveis, congestionamentos, más condições das estradas, aumento do custo das peças e crescimento da procura. "Quando há engarrafamento, muitos aproveitam para fazer linhas curtas. Já fui multado duas vezes, mas agora a fiscalização é rara", admite Paulo T., taxista.

Leia o artigo integral na edição 851 do Expansão, sexta-feira, dia 07 de Novembro, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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