Extracção de petróleo recua e "afunda" produção industrial em Maio
Petrodependência mantém-se na produção industrial nacional. Apesar do recuo, o "ouro negro" ainda é de longe o produto mais exportado. Indústria transformadora avança mas regista um crescimento muito fraco. Falta de matérias-primas, mão-de-obra especializada e dificuldades financeiras são os entraves.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) reviu a metodologia do Índice de Produção Industrial (IPI) passando a ser calculado numa base mensal, ao invés de trimestral como ocorria até ano passado. Com a nova actualização, a produção industrial do País caiu 1,6% em Maio deste ano face ao mesmo período do ano passado, afectado pelo recuo da indústria extractiva (- -3,7%) e da "Captação, Tratamento e Distribuição de Água e Saneamento" (-0,6%).
Esta actualização, que passa a considerar 2019 como o ano base, quando estrutura dos índices trimestrais calculados anteriormente tinha como base o ano de 2010, segundo o INE, reflecte a realidade vigente da indústria angolana, apurada com base nos resultados do Recenseamento de Empresas e Estabelecimentos (REMPE 2019) realizado entre 2019 e 2020, alinhado com o Manual de "Recomendações Internacionais para o Índice de Desenvolvimento Industrial Produção, ano 2010" da Divisão de Estatísticas Industriais das Nações Unidas.
Sem surpresa, a empurrar a produção industrial para baixo esteve, essencialmente, a indústria extractiva liderada pela produção de petróleo e gás que caiu 4,1% em Maio face ao período homólogo, segundo o INE. Entretanto, os dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG), apontam que o País produziu no mês de Maio cerca de 31,5 milhões de barris de petróleo, o equivalente a uma média diária de 1,015 milhões de barris, o que representa uma queda de 10% face aos 1,130 milhões produzidos diariamente em média face ao mesmo período de 2024, ou seja, em Maio, Angola produziu menos 115,1 mil barris/dia face ao período homólogo, de acordo com cálculos do Expansão. Já a produção de gás associado recuou 2% face ao período homólogo.
Assim, a produção industrial de Angola continua muito dependente do petróleo, já que este sector representa 74,8% dos ponderadores do IPI que servem para medir a produção industrial de 12 sectores da economia, o que demonstra um sinal claro da fraca diversificação económica do País.
Sem o oil & gas, os outros 11 sectores representam apenas 25,1% da actividade industrial, o que significa, de facto, que a diversificação económica está muito longe de compensar os efeitos negativos que o declínio da produção no petróleo tem provocado aos cofres do Estado.
Importa realçar que com actualização do ano base para o cálculo do IPI, a Extracção de Petróleo que representava até o final do ano passado 85,3% da produção industrial, passa valer agora 74,8%, o que significa que o INE cortou 10,4 pontos percentuais, o que permitiu maior folga noutros sectores. Ou seja, a alteração da metodologia contribuiu para a diversificação económica.
Este processo de actualização também aconteceu nas Contas Nacionais, que incluiu a migração do ano de referência de 2002 para 2015, e trouxe alterações substanciais ao Produto Interno Bruto (PIB). Só para termos noção, a Extracção e Refino de Petróleo que representava 28,6% PIB até o final do ano passado, passou a valer 19,5 % com as correcções, menos 9,1 pontos percentuais. Apesar do recuo, o "ouro negro" ainda é o produto mais exportado, responsável por 98,5% das exportações.
A puxar a produção industrial para cima está a "Produção e Distribuição de Electricidade, Gás e Vapor", que segundo INE, cresceu uns surpreendentes 14,3% no quinto mês do ano. Ainda assim, este sector, teve pouco impacto no índice da produção industrial do País, uma vez que representa apenas 3,3% da estrutura de ponderadores do INE.
Já a indústria transformadora, que em termos gerais, é a que representa a diversificação económica, cresceu apenas 2,5% em termos homólogos, liderado pelo crescimento de 6,1% da fabricação de "Produtos Petrolíferos, Químicos e Outros". Isto demonstra que mesmo dentro da indústria transformadora, a produção que mais cresce é aquela que auxilia ou deriva da produção petrolífera, outro sinal claro do peso que a indústria petrolífera tem na economia.
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