Quase três anos após o anúncio da compra do emblemático edifício do Banco Económico, no centro de Luanda, a ANPG continua sem se mudar para a futura sede, apesar dos cerca de 130 milhões USD já comprometidos no processo entre aquisição, reparações e modernização. O negócio, tornado público em Março de 2023, previa inicialmente uma transição célere, com expectativas de ocupação até ao final daquele ano.

No entanto, a mudança continua adiada e, agora, a justificação oficial aponta para a falta de libertação de verbas, sendo que esta semana o Expansão constatou que o imóvel se encontra vazio, com um aspecto "meio abandonado", já tendo sido retirados os placards que identificavam a instituição bancária. Foi também possível apurar no local que havia uma indicação que as obras de reconversão do edifício deveriam ter começado em Julho, mas por enquanto não há sinais que estas se estão a realizar.

A aquisição foi autorizada por despacho publicado a 7 de Junho de 2023, fixando o valor de venda em 100 milhões USD, dos quais 60 milhões USD foram pagos de imediato - um balão de oxigénio essencial para o Banco Económico, que atravessava na altura enormes dificuldades de tesouraria. A última tranche foi liquidada aquando da formalização da escritura, a 12 de Julho de 2024, momento em que a titularidade passou oficialmente para a ANPG.

Avaliações do mercado imobiliário sustentavam que o preço - cerca de 5.000 USD/m² - era compatível com a localização premium, os 20.000 m² de área e os acabamentos de luxo, sobretudo considerando que a construção teria custado originalmente 3.800 USD/m², há mais de uma década.

Condições criadas

Depois da compra, seguiram-se novos compromissos financeiros. A 29 de Abril de 2024, um primeiro despacho presidencial autorizou 14,94 milhões USD para a transferência da infraestrutura tecnológica e modernização de activos operacionais. A 24 de Julho, outro despacho somou mais 15 milhões USD para a manutenção e actualização do sistema de HVAC, um investimento essencial dado o estado de desgaste do edifício inaugurado em 2012. Somados, estes montantes elevam para quase 130 milhões USD o esforço financeiro directo, sem contar com custos adicionais de reparação e preparação em curso, que fontes próximas admitem estar a avançar "lentamente devido a limitações de disponibilidade de tesouraria".

De acordo com o que Expansão apurou, estes custos adicionais estão estimados em mais 35 milhões USD. Apesar de o Estado ter assegurado, no papel, todas as condições para a mudança, a operação esbarra num impasse prático, é necessário libertar as verbas para começar as obras e assegurar a transição das pessoas e equipamentos para o imóvel.

Para muitos analistas, este cenário confirma a leitura inicial de que o negócio funcionou, na prática, como uma forma indirecta de capitalização da instituição financeira e de preservação do edifício num contexto de fragilidade do banco. Até porque a funcionalidade operacional da agência não está posta em causa nas instalações actuais.

Nova data para a mudança

Hoje, a ANPG confirma que na melhor das hipóteses a mudança poderá começar apenas no final do primeiro trimestre de 2026, prolongando um processo que já ultrapassa amplamente quaisquer previsões iniciais. Entre justificações formais e constrangimentos informais, a nova sede permanece emblemática não apenas pela arquitectura, mas pelo custo crescente da operação e pela demora que expõe, mais uma vez, as dificuldades de execução e coordenação institucional no sector público angolano. Recordar que a primeira data para a mudança era o final de 2023 e já passaram dois anos.