O crédito à economia é condição necessária para aumentar a produção interna
Não há outro caminho e a crise aperta cada vez. Especialistas lembram que só vão sobreviver à actual conjuntura as empresas que mudarem a forma de fazer negócios e que estejam preparadas para redimensionar ou reestruturar as suas estruturas.
Os bancos insistem na narrativa de que os empresários têm de fazer prova de que serão capazes de captar clientes suficientes para pagar e remunerar os financiamentos. Mas é certo que esta política tem vindo a inviabilizar muitos negócios. Muitos especialistas acreditam que o crédito à economia é uma condição necessária para alavancar a produção nacional, mas é importante que se criem instrumentos de apoio.
Além de financiamento, que é "indispensável dada a falta de poupança dos produtores para, por si próprios, aumentarem a sua oferta", como evidencia José Lopes, o Ministério da Economia e Planeamento deve colocar à disposição das empresas outros instrumentos para enfrentarem o momento de incertezas, porque a reconversão e reajustamento são palavras-chave. Ainda existe uma certa resistência, por parte da banca, em disponibilizar financiamento às empresas, que lhes permita aceder ao mercado interno e externo, facilitar a capacitação e qualificação dos seus recursos humanos e apoiar o aumento da produção e da produtividade.
Com a falta de crédito, reconhece o economista José Lopes, não é possível rever a taxa de desemprego. A actividade económica das empresas actuais e de novas continua difícil. E tudo se resume à ampliação da actividade das empresas e à capacidade de atrair novas empresas, com a promoção e captação de novos investidores, nacionais e estrangeiros.
O empresário Costa Camuenho diz que as empresas enfrentam "claramente uma "conjuntura económica que impõe desafios", alguns dos quais têm sido previstos e anunciados por especialistas nacionais e estrangeiros. Lembra, no entanto, que é imperioso apoio financeiro às empresas e reduzir os entraves levantados pelo sistema financeiro.
"O outro lado da moeda consiste, sem dúvida, no facto de todo este contexto interno e externo desfavorável constituir uma pressão para realização de reformas profundas no tecido produtivo nacional e que poderão contribuir, a médio e longo prazo, para a melhoria do clima de negócios no País", afirma, tendo revelado que, "no muito curto prazo, sobreviverão aquelas empresas que tiverem incorporado essas ameaças nos seus planos de desenvolvimento institucional e que consigam uma execução eficaz das estratégias definidas".
O sector da construção é o mais afectado e a crise parece não dar tréguas. A reduzida carteira de encomendas tem vindo a impactar na vida das empresas. São massivos os despedimentos resultantes da reestruturação de muitas empresas do sector da construção. Muitas empresas já reduziram o investimento na construção e os relatos apontam para a aposta na agricultura. Redimensionar o negócio é palavra comum entre os especialistas e as empresas estão a mudar a forma de fazer negócio. Seja em épocas de contracção, seja de boom económico, as "empresas devem estar sempre preparadas para a necessidade de redimensionar ou reestruturar os seus negócios". Aquelas que não estiverem atentas aos sinais do mercado "colocam em risco" a sua sobrevivência. "A estratégia de redimensionamento do negócio não deve ser reduzida a uma mera estratégia de redução dos custos com pessoal".
Passa também pela "inovação e busca de novas oportunidades, novos mercados e novos perfis de trabalhadores". Ao Estado cabe, segundo o economista, "expandir a procura agregada" e criar condições para a melhoria do ambiente de negócios, funcionando como "amortecedor das externalidades do mercado" e não como empregador.
A trajectória descendente da economia exige "maiores e agressivas estratégias para manter ou maximizar a lucratividade", o que obriga as empresas a "repensar o seu modelo e alterar as estratégias de vendas e de negócios", defende Yuri Quixina. O Estado tem de "acarinhar os empreendedores, através da redução dos custos exógenos das empresas, ou seja, ser um facilitador para incentivar a criação de emprego".