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Gestão

A importância do ESG nas instituições financeiras

EM ANÁLISE

Quais as vertentes ESG com maior impacto na minha empresa, terei os dados necessários para atingir os objectivos, será o meu negócio capaz de suportar os custos desta transição e, por último, qual será o enquadramento governamental e regulamentar, garantindo sempre a integridade e transparência?

Actualmente, o ESG é considerado como um tema central na agenda dos governos, reguladores e empresas, por ser também cada vez mais uma preocupação da sociedade em geral pela certeza das suas implicações, não só no longo prazo, mas também no presente.

O ESG (Environmental, Social and Governance) diz respeito a três factores-chave que são utilizados para avaliar instituições e países no seu progresso em matérias de sustentabilidade e perceber de que forma está a ser gerido o risco e as oportunidades relacionadas com estes critérios por parte de uma entidade.

No contexto específico das instituições financeiras, enquanto motores da economia, estas assumem uma posição fundamental, tanto numa perspectiva de dinamizar e fomentar a transição para uma economia mais sustentável, como por outro lado na necessidade de terem de estar preparadas para prever os riscos associados a essa transição ou às consequências de uma não transição.

Para isso, estas devem conseguir responder a várias perguntas e ao mesmo tempo serem capazes de ajudar empresas a fazê-lo também, tais como: quais as vertentes ESG com maior impacto na minha empresa, terei os dados necessários para atingir os objectivos, será o meu negócio capaz de suportar os custos desta transição e, por último, qual será o enquadramento governamental e regulamentar, garantindo sempre a integridade e transparência.

Como principal fonte de financiamento da economia, os bancos devem ter uma preocupação acrescida com as empresas que decidem financiar, nomeadamente as que se encontram em sectores de maior transição ou aquelas que são mais susceptíveis de cometer greenwashing (i.e. utilização de técnicas de marketing ou relações públicas para levar a uma falsa impressão da existência de preocupações ambientalistas).

Em adição, há que considerar riscos físicos como catástrofes ambientais e os seus impactos nos diversos sectores económicos, o que vai tornar ainda mais importante incluir estes riscos nos modelos de avaliação e gestão de risco das organizações, pelos impactos que estes podem ter a nível do risco de crédito, que terão implicações directas na estratégia das instituições financeiras.

Aliados a novos riscos estão também novas oportunidades, quer sejam na descarbonização, novos mercados ou indústrias. No contexto de Angola, há ainda um longo caminho pela frente no que diz respeito a ESG.

Em termos ambientais, a economia angolana ainda apresenta uma elevada dependência de energias não renováveis, principalmente o petróleo, que em 2021 ainda representava 98,7% das exportações do país.

A nível social, apenas 57% da população tem acesso a água potável e ainda existem vários problemas a nível da educação e de pobreza, sendo que em 2018 cerca de 8 milhões de pessoas se encontravam no limiar de pobreza extrema (cerca de 30% da população).

Apesar destes desafios, a Angola já tem vindo a promover algumas medidas que vão de encontro a estes objectivos do ESG. Exemplo disso é a rectificação do Acordo de Paris em 2020, no qual se comprometeu a reduzir em 35% as emissões de GEE até 2030 (tendo 2005 como o ano de referência) e foram desenvolvidos projectos de apoio, como o programa da FRESAN (direccionado ao fortalecimento da capacidade dos agricultores em adaptarem-se ao clima e lidar com as secas) e um apoio para a melhoria da capacidade de previsão e modelagem climática pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INAMET). Além de que também ao fazer parte da ONU, Angola comprometeu-se a atingir os objectivos de desenvolvimento sustentável da agenda de 2030, dos quais Angola tem como principal foco o "Trabalho Decente e Crescimento Económico", "Educação de Qualidade" e a "Erradicação da Pobreza".

É neste contexto que as oportunidades no ESG em Angola são enormes, uma vez que o desenvolvimento económico do país, também por via de apoios externos, deverá passar sempre por um desenvolvimento sustentável, o qual transformará estruturalmente o país. As instituições financeiras que se posicionarem no suporte a essa transição estarão a contribuir também para uma completa transformação das empresas tornando-se em verdadeiros parceiros das mesmas.

Os principais aspectos desta transformação são: (i) A transição que o País e as organizações terão de efectuar, para atingirem uma economia neutra em carbono. Desta forma, as instituições financeiras deverão direccionar fundos e capitais para projectos diversificados de carácter sustentável, ajudando o país a superar a sua dependência do petróleo, garantindo que as próprias empresas fazem uma boa alocação dos seus fundos de forma a diversificar as fontes de rentabilidade. (ii) Não esquecendo a componente social para que o país se desenvolva como um todo, reduzindo as desigualdades.

Também internamente é da responsabilidade das instituições fomentarem a preocupação pelo ESG, através da formação e consciencialização dos seus colaboradores em matérias ambientais e sociais e da promoção de melhores condições de trabalho. Ao mesmo tempo, devem procurar trabalhar para reduzir a sua pegada ecológica, optando, por exemplo, por trabalhar unicamente com parceiros que tenham os mesmos ideais da importância de ESG, aumentando dessa forma a sua reputação em termos de sustentabilidade.

No apoio que temos vindo a dar aos nossos clientes os desafios têm sido imensos: Por onde começar? Como é que os meus clientes vão reagir a requisitos adicionais que lhes vão ser impostos? A solução de uma forma geral tem sido sempre a mesma: definir um governo de governo dentro da organização com responsabilidades sobre o ESG e uma estratégia, embora ambiciosa, progressiva ao longo do tempo. Na minha opinião, no longo prazo, todas as instituições financeiras terão de se adaptar, mas as primeiras a avançar terão uma vantagem competitiva e moral significativamente maior, por serem percepcionadas pelo mercado por terem verdadeiramente esse desígnio e não apenas para se manter no mercado ou para cumprir requisitos regulamentares.