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África

Formação desajustada e défice de infraestruturas "travam" África

FIM-DE-SEMANA DA GOVERNAÇÃO MO IBRAHIM INSISTE NA MUDANÇA DA ARQUITETURA FINANCEIRA GLOBAL

"A actual arquitectura financeira internacional está, para o dizer sem rodeios, armadilhada contra nós, no hemisfério Sul", afirmou o Presidente do Quénia, anfitrião do evento. Relatório da Fundação Mo Ibrahim aponta défice de infraestruturas e formação desadequada como outros obstáculos ao desenvolvimento de África.

África é a região com o crescimento mais rápido do mundo depois de 2027, ultrapassando a Ásia, segundo relatório da Fundação Mo Ibrahim, apresentado no Fim-de-Semana de Governação Mo Ibrahim, que aponta como grandes obstáculos ao desenvolvimento do continente o défice de infraestruturas e a deficiente ou inadequada formação dos seus trabalhadores.

Sob o tema "África Global: O lugar de África no mundo de 2023", o evento juntou este fim-de-semana em Nairobi, líderes de todo o continente, para falar sobre a voz e peso de África nos actuais sistemas multilateriais. Pretexto que levou o Presidente do Quénia, William Ruto, a afirmar que a actual arquitectura financeira global "está armadilhada contra o hemisfério sul", por causa das taxas de juro de 10 e 15% que cobra nos empréstimos aos países em desenvolvimento.

"Torna-se impossível financiar qualquer desenvolvimento significativo. A actual arquitectura financeira internacional está, para o dizer sem rodeios, armadilhada contra nós", afirmou o Presidente anfitrião do evento. Caberá aos africanos, defendeu William Ruto, "formular o debate que colocará em cima da mesa" a perspectiva africana sobre o tipo de arquitetura financeira internacional que melhor funcionaria, não só para as economias do continente, mas para todos.

O relatório da Fundação Mo Ibrahim revela um continente em crescimento - seis das 10 economias que mais crescem em 2023 estão em África - à medida que a Zona de Comércio Livre Continental Africana avança. Mas revela igualmente as barreiras, internas e externas, que África enfrenta. Os países de África Subsariana "são gravemente afectados por qualificações e competências, o que torna difícil os empregadores encontrarem candidatos a emprego adequados", refere o relatório.

Desajustes na formação

"A maioria dos países regista desajustes verticais, em que os trabalhadores não têm o nível de educação necessário para desempenhar as tarefas das carreiras por eles escolhidas". Na maioria dos casos os licenciados "não possuem as competências exigidas por determinadas profissões" e na maior parte dos países "as profissões dos trabalhadores não estão relacionadas com as suas áreas de estudo", resume o relatório.

Outra limitação reside no facto de a especialização ocorrer no ensino superior terciário, um nível atingido apenas por uma minoria de estudantes na África Subsariana, onde apenas 5% dos adultos possuem um diploma. Este quadro ajuda a perceber porque é que "um em cada dois jovens, entre os 18 e os 24 anos, consideram emigrar, se os seus governos não tomarem medidas que melhorem as suas vidas".

O Produto Interno Bruto (PIB) africano é outro indicador que mostra as fragilidades do continente. África representa 3% do PIB mundial, mas tem 18% da população do planeta, o que reflecte o nível de pobreza da população africana. O PIB per capita africano é 20 vezes menor do que o norte-americano, 10 vezes menos do que o europeu e menos de um terço do asiático ou da América Latina.

Onde África se destaca é no nível de crescimento. De acordo com o estudo, que se baseia nas previsões do FMI, a taxa de crescimento de África deverá ultrapassar a média mundial em cada um dos próximos cinco anos, ficando apenas atrás da Ásia, até 2027, ano em que supera o continente asiático.

(Leia o artigo integral na edição 723 do Expansão, desta sexta-feira, dia 5 de Maio de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)