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Angola

80% das obras no País estavam paralisadas no final do III trimestre

CENÁRIO TEM VINDO A DEGRADAR-SE

Factores económicos, como a alta dos preços dos materiais de construção, estão na origem da paralisação de muitas obras de construção a nível do País numa altura em que o preço do cimento quase duplicou nos mercados informais. A falta de um mercado imobiliário dinâmico e as dificuldades de acesso ao crédito limitam a procura.

O sector da construção voltou a dar sinais preocupantes no terceiro trimestre deste ano, atingindo o mais elevado nível de paralisação dos últimos quatro anos. Segundo o ITAEPC, produzido pelo INE, 80% das 5.758 obras visitadas estavam paralisadas - um número que revela não apenas a estagnação do segmento habitacional, que representa 96% da amostra, mas também o agravamento estrutural das condições económicas que sustentam o investimento privado e familiar em construção.

Das obras inspeccionadas, apenas 1.152 estavam em actividade, enquanto 4.606 encontravam-se paradas, confirmando que a retoma observada após a Covid-19 foi interrompida pela combinação de aumento acentuado dos custos, perda de poder de compra e restrições severas no acesso ao crédito.

Apesar deste inquérito representar apenas uma amostra estatística, e não a totalidade das obras em curso no País, o retrato é suficientemente expressivo para demonstrar a gravidade do cenário. Entre Janeiro e Setembro, o número de obras paralisadas subiu 6,7 pontos percentuais (pp) face aos 73,2% registados no final de 2024, aproximando-se perigosamente dos 90% registados em 2020, no pico da pandemia.

O ciclo económico angolano não ajuda: inflação persistente, desvalorização cambial, aumento dos combustíveis e escassez de divisas criam um ambiente de custos explosivos para a construção, enquanto o rendimento das famílias e a procura por habitação perdem fôlego. O cimento - o termómetro mais sensível do sector - tornou-se exemplo da pressão generalizada sobre preços e margens.

O produto está hoje a ser comercializado no mercado informal a níveis considerados "exorbitantes", afectando directamente a continuidade das obras e forçando suspensões sucessivas. Ricardo Rocha, vice-presidente da Associação das Indústrias dos Materiais de Construção, resume o problema num único eixo: "a indústria cimenteira é cara, pesada e profundamente dependente de divisas. A desvalorização da moeda, a falta de matérias-primas, os custos do combustível e dos transportes estão todos a empurrar o preço final para cima." (ver pág 6).

Benguela lidera obras paradas

A análise do INE revela ainda disparidades provinciais que traduzem realidades económicas distintas. Benguela lidera o ranking nacional, com 99% das obras paradas: das 1.869 obras visitadas, apenas 15 estavam em construção. Seguem-se Cabinda (96%) e Uíge (89%), enquanto Luanda aparece com 70% de obras suspensas - um valor alto, mas ainda assim melhor do que no interior, onde o impacto da crise é mais acentuado.

No extremo oposto surge o Namibe, com apenas 4% das obras paralisadas, sugerindo que dinâmicas locais, custos logísticos e dimensão dos projectos podem influenciar significativamente a capacidade de execução.

O peso esmagador da habitação - 96% das obras - confirma que a crise afecta sobretudo famílias e pequenos investidores, e não apenas grandes empreiteiros. Benguela, Luanda, Cabinda e Uíge concentram os maiores volumes habitacionais, sendo também as regiões onde os constrangimentos económicos se tornam mais visíveis. Em termos de área bruta, Benguela volta a liderar, com 162.656 m² em construção, muito acima de Luanda e Cuanza Sul, reforçando que se trata de uma província onde a dimensão dos projectos habitacionais é tradicionalmente elevada. A crise do sector não é apenas conjuntural; é estrutural.

A ausência de uma indústria nacional robusta de materiais de construção, a dependência de importações, a volatilidade cambial e a redução do crédito à habitação criam um círculo vicioso que paralisa empreendimentos e destrói capacidade produtiva. Os atrasos nos pagamentos das empreitadas, sobretudo em projectos públicos e semi-públicos, agravam o problema financeiro das construtoras.

Fraco poder de compra

Para Cleber Corrêa, sócio-gerente da Proimóveis, a solução passa inevitavelmente por reanimar o financiamento: "Deve haver crédito mais favorável aos empresários do ramo. Sem liquidez não há construção, e sem poder de compra não há procura. A economia tem de voltar a respirar para o sector recuperar a pujança que lhe era característica."...

Leia o artigo integral na edição 856 do Expansão, sexta-feira, dia 12 de Dezembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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