Apenas um em cada 10 empregos formais criados até Setembro foram para jovens
Dos 6.768.957 de jovens economicamente activos, 49% estão desempregados (3.293.636), 47% enfrentam o dia-a-dia na informalidade (3.172.968) e apenas 4% têm emprego formal (302.353). 1.278.176 estão inactivos.
Nos primeiros nove meses do ano foram criados apenas 89.359 empregos formais para jovens economicamente activos entre os 15 e os 24 anos, de acordo com os dados do emprego publicados pelo INE relativos ao III trimestre, que já inclui a base de dados do Censo 2024. É nesta faixa da população que persiste o alto desemprego e a alta informalidade, que devem ser encarados como travões de desenvolvimento do País.
Contas feitas, dos 715.466 empregos formais que o INE diz que foram criados em 2025, apenas 89.359 "pertencem" a angolanos com idades entre os 15 e os 24 anos. Ao todo, esta faixa da população tem uma taxa de informalidade preocupante, de 91,3%, ainda assim, abaixo dos 96,7% registados no I trimestre do ano, quando o INE ainda utilizava como base de amostra a projecção de crescimento populacional de referência do Censo de 2014. Apesar de os números deste inquérito estarem a ser contestados por especialistas, ainda assim no que diz respeito aos mais jovens o cenário continua a ser muito negativo, já que persistem um forte desemprego e uma taxa de informalidade muito elevada.
O perfil dos jovens angolanos em relação ao emprego é, assim, deprimente, já que dos 6.768.957 que se encontram em idade activa, 49% estão desempregados (3.293.636), 47% enfrentam o dia-a-dia na informalidade (3.172.968) e só 4% têm emprego formal (302.353).
Ainda assim, o número de emprego formal nesta faixa etária é quase o dobro do número que o INSS tem como inscritos na Segurança Social, que no final de Setembro eram 183.865. As sucessivas crises financeiras e o quadro macroeconómico desfavorável têm feito com que a economia angolana não consiga responder às necessidades do País em termos de criação de emprego formal.
À falta de empregos formais, resta à população sobreviver nos biscates da informalidade. E o quadro agrava-se nas camadas mais jovens, que é onde impera a mais alta taxa de desemprego e é onde também a informalidade é maior. E nem com estas alterações de procedimentos e de métodos no INE, o quadro muda. Perante este cenário, é impossível quebrar o ciclo de pobreza do país que, de acordo com o World Poverty Clock já tem mais de 11.600.000 pessoas em pobreza extrema, equivalente a 31% da população nacional. "Tudo começa por reconhecer que esta situação é um problema e que ele merece uma atenção especial da governação, se Angola desejar tirar proveito do dividendo demográfico. Tudo passa pelo aumento da actividade económica, particularmente virada para aqueles sectores intensivos em mão- -de-obra e que possam absorver uma mão-de-obra pouco qualificada", defende o investigador e economista Fernandes Wanda. Já Heitor Carvalho, economista e coordenador do CINVESTEC, vai mais longe e diz que é preciso, de facto, diversificar a economia.
"O que só se consegue com políticas muito diferentes das que têm sido seguidas que, pelo contrário, favorecem a informalidade", remata. Por outro lado, o economista e investigador do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica, Francisco Paulo, considera que apesar de a situação ser alarmante, é possível quebrar o quadro de pobreza, mas exige políticas integradas e forte comprometimento para o bem- comum.
"A elevada informalidade entre jovens (+90%) limita acesso a protecção social e crédito, perpetuando pobreza. Para mudar, Angola precisa investir em educação técnico-profissional, no forte apoio ao empreendedorismo, e em incentivos fiscais para as empresas que contratam jovens, dando-lhes a oportunidade do primeiro emprego formal. Programas como o PREI devem evoluir para garantir que a formalização seja acompanhada de oportunidades reais, com contratos, segurança social e acesso a financiamento. A transformação estrutural é gradual, mas possível com políticas consistentes e participação activa do sector privado", defende.











