O impacto do uso das redes sociais e o fenómeno do brain rot
O uso excessivo das redes sociais e o fenómeno do brain rot representam uma ameaça silenciosa ao desenvolvimento intelectual da juventude angolana. Para garantir um futuro de cidadãos críticos, conscientes e preparados, é necessário agir com urgência através de políticas públicas, reformas educacionais e uma nova cultura digital que valorize o conhecimento profundo e o aprendizado de qualidade.
Nas últimas décadas, o uso das redes sociais tornou-se parte integrante da vida quotidiana em todo o mundo. Angola não é excepção. Plataformas como Facebook, WhatsApp, TikTok, Instagram e outras são largamente utilizadas, especialmente entre os jovens.
Embora as redes sociais ofereçam benefícios significativos na comunicação e acesso à informação, o uso excessivo e desregulado tem gerado preocupações, particularmente em relação ao fenómeno conhecido como brain rot - um termo popular que descreve o declínio cognitivo associado ao consumo exagerado de conteúdo superficial e repetitivo.
Este artigo analisa o impacto desse fenómeno no desenvolvimento intelectual e no processo de ensino-aprendizagem em Angola.
Redes sociais: ferramenta ou armadilha?
As redes sociais podem servir como ferramenta poderosa no contexto educacional: permitem acesso a conteúdos didácticos, troca de informações entre estudantes e professores, e abertura a debates globais. No entanto, quando mal utilizadas, tornam-se uma fonte constante de distracção e superficialidade.
Em Angola, onde a juventude representa a maioria da população e o acesso à internet tem crescido rapidamente, muitos jovens passam horas conectados a conteúdos de entretenimento rápido, como vídeos curtos, memes e desafios virais. Isso, embora aparentemente inofensivo, contribui para uma redução na capacidade de concentração, memorização e pensamento crítico.
Brain rot: o inimigo invisível
O termo brain rot refere-se ao impacto negativo que o consumo contínuo de conteúdos de baixa qualidade tem sobre o cérebro. Em vez de estimular o raciocínio, o cérebro acostuma-se com estímulos rápidos e recompensas imediatas, como "likes" e "visualizações".
Estudos apontam que isso pode prejudicar áreas cognitivas essenciais para o aprendizado, como a atenção sustentada, o pensamento analítico e a capacidade de resolver problemas complexos. Em Angola, esse problema agrava-se devido à ausência de políticas eficazes de educação digital e à falta de incentivo à leitura e ao pensamento crítico nas escolas. Muitos estudantes trocam horas de estudo por tempo nas redes sociais, o que prejudica directamente o rendimento escolar.
O impacto no ensino-aprendizagem
O processo de ensino-aprendizagem exige foco, disciplina e esforço cognitivo contínuo. Quando os estudantes estão habituados a estímulos rápidos e conteúdos fragmentados, têm dificuldade em engajar-se com leituras longas, aulas expositivas e actividades que requerem reflexão profunda.
Professores angolanos já relatam queda na participação activa dos alunos, aumento da distracção em sala de aula e menor interesse por tarefas académicas. Além disso, o hábito de copiar respostas da internet sem leitura ou compreensão aprofundada tem crescido, enfraquecendo o pensamento crítico e a autonomia intelectual.
Caminhos para a mudança
Apesar do cenário preocupante, há caminhos possíveis para mitigar os efeitos negativos das redes sociais e do brain rot:
01. Educação digital nas escolas: É urgente incluir no currículo escolar o ensino sobre o uso consciente da internet e das redes sociais.
02.Promoção da leitura e do pensamento crítico: Campanhas de incentivo à leitura e projectos de literatura juvenil podem ajudar a equilibrar o consumo de conteúdos digitais.
03.Uso pedagógico das redes sociais: Professores podem integrar essas plataformas de maneira criativa e educativa, tornando-as aliadas no ensino.
04.Envolvimento das famílias: Pais e responsáveis devem ser orientados sobre os riscos do uso excessivo e monitorar o tempo online dos filhos.
Conclusão
O uso excessivo das redes sociais e o fenómeno do brain rot representam uma ameaça silenciosa ao desenvolvimento intelectual da juventude angolana. Para garantir um futuro de cidadãos críticos, conscientes e preparados, é necessário agir com urgência através de políticas públicas, reformas educacionais e uma nova cultura digital que valorize o conhecimento profundo e o aprendizado de qualidade.
*Mariana Bento da Silva, Engenheira em Pesquisa e Produção de Petróleo
Edição 826 do Expansão, de Sexta-feira, dia 16 de Maio de 2025