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Opinião

As perspectivas económicas mundiais para os próximos anos

LABORATÓRIO ECONÓMICO

As economias avançadas estarão com um ritmo de crescimento em torno de 1,7% ao ano até 2027, reflectindo, provavelmente, os efeitos adversos da crise energética e do ressurgimento em força da inflação.

Nos últimos 20 anos (2002-2022) a economia mundial não evoluiu de maneira linear, tendo alternado períodos de crescimento intenso, com outros de redução das dinâmicas de variação do roduto.

Podem identificar-se três situações que influenciaram negativamente o comportamento económico mundial: a crise do "subprime" entre 2008 e 2009, o confinamento sanitário imposto pela combate ao Covid-19 entre 2019 e 2020 e a guerra na Europa forçada pela invasão da Rússia à Ucrânia. Qualquer um destes fenómenos teve como efeitos marcantes a redução das dinâmicas de crescimento da economia mundial, a diminuição da resiliência da parte dos países mais frágeis, (especialmente na África subsariana) e a eclosão de crises sociais severas manifestadas por intermédio do aumento das desigualdades (mundiais, regionais e no interior de cada país), do incremento da pobreza e do crescimento das assimetrias (a deslocalização do sistema produtivo mundial tem-se acelerado em direcção às novas economias emergentes do sudeste e do leste asiático).

Mais marcante foi a recessão económica durante o confinamento covidiano em 2020 com taxas negativas expressivas de crescimento do PIB, a que poucos países escaparam em todo o mundo, com excepção da China (taxa de crescimento do PIB de 2,2%).

De um ponto de vista do médio prazo, a análise da economia mundial consente as observações seguintes:

a) A China não vai perder, neste entretanto, a sua função de "motor" económico do mundo, a favor da Índia, pois em 24 anos (2004-2027) a sua taxa média anual de crescimento é de 6,2%, contra 5,8% do segundo país. Não obstante, a Índia, dentro de 30 anos poderá estar entre as oito maiores economias do mundo, em termos de valores absolutos do PIB.

b) Acentuar-se-á a hegemonia mundial no que se poderá vir a chamar de G2, Estados Unidos e China, que em 2027 poderão subscrever, conjuntamente, mais de 36% do PIB mundial e acima de 28% das exportações de bens e serviços (valores para 2022 são de respectivamente, 34,3% e 22%).

c) Os BRICS sem a China e a Índia acabam por deixar de ter a influência na reconfiguração do comércio mundial que se chegou a projectar aquando da sua criação em 2009. Como se sabe, a ideia dos BRICS (inicialmente BRIC, tendo-se acrescentado o "s" em 14 de Abril de 2011 para simbolizar a entrada da África do Sul para este agrupamento) foi formulada, num estudo elaborado pelo economista- chefe da Goldman Sachs, Jim O"Neil em 2001 e intitulado "Building Better Global Economic BRICs". O caso da África do Sul continua a ser prototípico, porquanto não consegue descolar-se de uma dinâmica de crescimento médio anual pífio, desde há muitos anos (1,5% até 2027).

d) O Brasil parece que continua a ser um caso adiado de momentum de desenvolvimento económico, perdendo-se as oportunidades de ser um parceiro relevante na economia mundial e na economia dos BRICS. Entre 2004 e 2021, a sua taxa média anual de variação do VAB foi de 0,3% e as perspectivas até 2027 (1,9% em média anual) não permitem configurar uma alteração substantiva na sua economia.

e) A República do Vietname, com 6,7% de variação média anual, vai consolidar a sua posição de relevo no conjunto de países da ASEAN, sendo hoje um país apetecível para o investimento estrangeiro dadas as reformas encetadas há uns anos, de onde se destacam a substancial melhoria do ambiente de negócios, a construção e modernização de infraestruturas físicas e a revolução na educação e na investigação. A variação real do valor do seu PIB por habitante (preços constantes de 2017) tem sido, em média anual, de 4,5%.

f) As economias avançadas estarão com um ritmo de crescimento em torno de 1,7% ao ano até 2027, reflectindo, provavelmente, os efeitos adversos da crise energética e do ressurgimento em força da inflação.

(Leia o artigo integral na edição 715 do Expansão, de sexta-feira, dia 10 de Março de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)