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Opinião

Não desistam

EDITORIAL

Neste esforço enorme de fazer com que todos acreditem no País, temos de valorizar as coisas boas e manter o optimismo. Sei que não é fácil, que parece estranho, por vezes, rir ou estender a mão, mas caríssimos, não temos outra solução

Não sei se vou parecer disparatado ou fora da realidade, mas temos de acreditar no País. Temos de explicar aos milhares de jovens que estão a fugir para a Europa que têm direito a uma oportunidade na terra dos seus pais. Embora para eles seja difícil entender por que é o que o País gastou milhares de dólares na sua formação e depois as oportunidades profissionais continuam a ser em função das cores partidárias e das linhagens familiares.

Temos de os segurar, porque são o futuro e esta geração que hoje dá as cartas também vai chegar ao fim. Também é difícil pedir-lhes para ficar quando os filhos dos "chefes" já vivem há muitos anos lá fora e vêm a Angola com o mesmo espírito dos multimilionários quando visitam as fazendas. Acham graça, mas nem pensar em ficar lá mais do que uma semana.

Temos de explicar aos milhões que se mantêm na informalidade que é necessário passarem para o lugar certo da economia. Registar-se, pagar impostos, ter benefícios sociais, ajudar à redistribuição da riqueza, ajudar a desenvolver a Nação. Mas temos de lhes mostrar as vantagens e não dar-lhes apenas um cartão e tirar um foto para a posteridade.

Mas também como é que eles vão entender quando muitos dos que alimentam esta informalidade são as figuras que vêem na televisão, que lhes reconhecem estatuto social, que aproveitam esta brecha para fazer correr os enormes lucros de negócios que, na sua génese, nunca podiam ser legais. Ou, pelo menos, formais.

E neste esforço enorme de fazer com que todos acreditem no País, temos de valorizar as coisas boas e manter o optimismo. Sei que não é fácil, que parece estranho, por vezes, rir ou estender a mão, mas caríssimos, não temos outra solução. Sou absolutamente contra essa coisa perfeitamente estapafúrdia alimentada pela comunicação social pública de que tudo está bem no País, que tudo o que nos acontece é bom, só os outros é que têm problemas, mas, mais do que isso, devemos mostrar-nos agradecidos.

Nada disso é verdade, todos sabemos, mesmo os que delinearam a estratégia e os que a executam diariamente. Publicamente confirmam tudo, como se uma peça de teatro se tratasse, mas aos domingos nos almoços de família desabafam. Mesmo estes, que também desistem quando o copo transborda ou quando têm suficiente dinheiro para isso, fazem as malas e vão viver para fora.

Por isso, as últimas linhas são para os que não vão para lado nenhum, que não estão a preparar a reforma no Dubai ou na Europa, que não alimentam esse sonho de viver fora, que estão dispostos a ficar e a lutar pelo seu direito de serem angolanos em Angola - não desistam! E não deixem os outros desistir!