ENDE corta número de agentes autorizados apesar do fim da greve
A greve dos agentes autorizados da ENDE, que deveria durar seis dias, prolongou-se para quase dois meses. Nesta quarta-feira, algumas lojas já reabriram. Mas foram dois meses complicados para os clientes com facturas por pagar, já que o sistema de atendimento da ENDE ainda é bastante frágil.
Os agentes autorizados pela Empresa nacional de Distribuição de Electricidade (ENDE) a prestar serviços mínimos nos bairros, como cobranças de facturas, suspenderam esta semana a greve que iniciaram em Março acusando a empresa pública de não lhes pagar 1,2 mil milhões Kz pela prestação destes serviços entre Junho de 2024 e Janeiro deste ano. Mas os pagamentos por parte dos clientes, continuam a ter de ser feitos de forma directa à ENDE, já que a empresa está a proceder a uma limpeza na lista dos 55 agentes, com o objectivo de ficar apenas com os que têm cumprido com os acordos entre as partes, apurou o Expansão.
Assim, enquanto algumas lojas de agentes voltaram a reabrir esta semana, outras continuam encerradas já que não têm acesso ao software de gestão que lhes permite proceder com as cobranças, numa situação que ainda deverá demorar algum tempo. E ao que o Expansão apurou, a ENDE já avançou com a rescisão de contratos de alguns destes agentes.
"Muito dos agentes não cumprem com os mínimos do contrato, como prestar contas da actividade que exercem, além de, às vezes, terem comportamentos abusivos com os clientes, o que mancha a imagem e a reputação da ENDE. Por isso estamos a limpar a lista", disse uma fonte do Expansão junto da empresa do sector eléctrico.
Por isso, os agentes estão a ser avaliados individualmente para decidir se continuam ou não a prestar serviços à empresa e nesta semana algumas delas já receberam aval para continuar a operar. Em termos práticos, a reabertura das lojas vai ser feita à medida que os agentes vão passando pela "peneira" da ENDE.
Segundo Luquelo Miguel Paulo, presidente Associação dos Agentes Autorizados da ENDE (A.A.A.E), a empresa que dirige já foi notificada para continuar a prestar os serviços. "Nesta quarta-feira retomamos os serviços. Temos consciência que a ENDE está a proceder a uma limpeza na lista", avança o líder associativo sem adiantar mais detalhes sobre a renegociação que está a ser feita entre as partes.
Ao que o Expansão apurou, a ENDE já avançou com o pagamento de 615 milhões Kz da dívida que tinha junto dos agentes, equivalente a cerca de metade do valor que estava em dívida. Assim, dos oito meses em atraso, a empresa pública tem agora por pagar quatro.
Este processo arrasta-se há dois meses, o que aumentou o fluxo de pessoas nas lojas oficiais da ENDE, tornando o processo de pagamento das facturas de energia um quebra-cabeças.
Enchente nas lojas da ENDE
O Expansão foi ao terreno e constatou enchentes nas lojas de atendimento da ENDE, com muitos clientes a desistir de pagar a factura de energia. Manuel Guilherme deslocou-se até à loja sede, no São Paulo, para pagar o consumo de electricidade dos últimos dois meses (Março e Abril), visto que as lojas dos agentes da sua zona, no município do Cazenga, continuam fechadas. Depois de várias horas de espera, acabou por desistir. "Não consegui pagar apesar de chegar aqui relativamente cedo. Há poucos balcões para o número de clientes que se deslocam a esta loja. Não sei o que vai acontecer depois, mas já não volto enquanto o atendimento for este", disse Manuel Guilherme.
A greve dos agentes provavelmente vai fazer com que a dívida dos clientes com a ENDE, que já está em torno de 220 mil milhões de Kz, aumente ainda mais. Isso acontece principalmente porque o pagamento da conta de energia tem sido uma das últimas preocupações da população, devido à ineficiência no atendimento da empresa e à baixa qualidade dos serviços prestados.
Recorde-se que associação dos agentes tinha definido um cronograma de execução da dívida, que exigia o pagamento de 50% do total da dívida, o que está acontecer visto que 4 dos 8 meses em dívida já foi pago. A outra metade deverá ser paga em parcelas mensais, juntamente com os pagamentos correntes, até que a dívida seja quitada.