AGOSTO: Rácio combinado faz lucros das seguradoras disparar 72% para 35.308 milhões Kz
Apesar deste crescimento, o valor global dos lucros das seguradoras instaladas em Angola não chega aos 39 milhões USD, o que é um valor ainda muito baixo face ao potencial do mercado e ao número de cidadãos e empresas. Aumento das vendas é um dado positivo, mas ainda não chega para "dar gás "ao sector
Agosto foi o mês em que o Expansão revelou que os lucros das seguradoras dispararam 72% para 35.308 milhões Kz, em 2024, após dois anos de quase estagnação do sector, de acordo com cálculos que têm por base os relatórios e contas das seguradoras.
A subida ficou a dever-se essencialmente à diminuição do rácio combinado que é constituído pela taxa de sinistralidade, que é a despesa operacional das seguradoras, comissionamento, que está associado à distribuição, porque ela paga comissões aos mediadores, e com custos de estruturas, que são os custos administrativos.
Apesar deste crescimento, o valor global dos lucros das seguradoras instaladas em Angola não chega aos 39 milhões USD, o que é um valor ainda muito baixo face ao potencial do mercado e ao número de cidadãos e empresas que existem no País. Mas algum optimismo quanto ao desempenho de 2024 esfria quando os números são analisados ao detalhe.
Os prémios brutos emitidos pelo mercado registaram um crescimento de 24,7% para 473.729 milhões Kz, abaixo da inflação que fechou o ano com um valor de 27%, o que na prática significa um crescimento real negativo. E as indemnizações "estagnaram" em 161.390 milhões Kz. Foram estes dois fenómenos combinados que contribuíram para o aumento dos lucros das seguradoras.
Contas feitas, a rentabilidade - vendas totais a dividir pelos resultados líquidos - registou um aumento de 7,5%, tendo um crescimento de 2,1 p.p. face aos 5,4% atingidos em 2023. "Em termos percentuais, é uma variação ainda muito aquém da expectativa, porque quem abre uma seguradora espera ter um rendimento maior", afirmou então Estevão Bandi, responsável pela gestão de risco da Prudencial Seguros, notando que o as alterações regulamentares no sector obrigaram "as seguradoras a fazer um grande investimento", não só a nível tecnológico, mas também a nível dos quadros, entre outras áreas.
Apesar da comparação com a inflação ser legítima, a verdade é que os preços dos seguros não cresceram 27% devido a questões de concorrência e de poder aquisitivo dos angolanos.
O aumento de 24,2% das vendas representa também um aumento do número de seguros vendidos em Angola, o que por si é um factor positivo que revela uma maior consciencialização sobre o papel e a importância dos seguros na vida das pessoas e das empresas. Mas ainda não chega para dar gás ao crescimento do sector.. O facto é que as vendas continuam a aumentar abaixo do valor da inflação, resultado da taxa de penetração, que continua abaixo de 1% do Produto Interno Bruto (PIB), quando a média na região da SADC é de 3%.
Neste particular, os seguros obrigatórios podem ter um papel importante na projecção do sector, uma vez que o cumprimento das disposições legais por via do reforço dos serviços de fiscalização, vai fazer crescer o mercado de forma natural. Importante também referir que a constituição de uma resseguradora nacional, que deverá estar em funcionamento no final do ano, também vai ajudar a reter no País um maior volume de prémios, o que depois se irá reflectir na dimensão do mercado angolano.
As seguradoras envolvidas, apesar de terem uma limitada capacidade de investimento, procuram nesta altura um parceiro internacional que possa catapultar este projecto.
Paulo Bracons, consultor de seguros, reitera que a verdade é que a sinistralidade melhorou de 2023 para 2024, em particular nos ramos não vida, e especificamente no ramo petroquímico.
"A redução dos custos com sinistros, apesar de ter havido um aumento dos montantes pagos em sinistros, pode também ser explicada por uma significativa redução das provisões para sinistros, em particular, de sinistros de maior gravidade", explica o consultor, sublinhando que esta redução, aliada ao aumento de prémios (superior a 25%, mas inferior à taxa de inflação, que terá sido superior a 27%) pode explicar algum aumento da rentabilidade, mas menor do que seria expectável, se o sector segurador crescesse mais do que a inflação.
* Com Alexandre Lourenço











