Mais de 150 empresas fecharam as portas no I.º Semestre
São apenas empresas que comunicaram oficialmente esta sua decisão ao GUE. O ambiente de negócios, a complexidade e agressividade fiscal, a perca de poder de compra da população e as dificuldades de recebimento, tem contribuído para este fenómeno. Vários destes empresários mantêm a sua actividade na informalidade.
No I.º Semestre deste ano, foram dissolvidas, via Guiché Único da Empresa (GUE), 158 empresas. O número de encerramentos formal definitivo subiu 107% em relação ao período homólogo de 2024, apurou o Expansão com base nos dados do GUE. Embora o guiché não explique os motivos do fim da actividade, especialistas apontam a desvalorização da moeda nacional, a conjuntura económica e o ambiente de negócios como os principais responsáveis. Muitas destas empresas que encerraram oficialmente a sua actividade, dão origem a negócios informais, por via da necessidade de os empreendedores terem rendimentos para sua sobrevivência.
Entre as empresas que saíram formalmente do tecido empresarial nacional, as estatísticas do GUE - serviço público interorgânico que agiliza os processos de constituição de empresas - revelam que mais de 60% atuavam no comércio de bens, cerca de 15% no sector de prestação de serviços e pouco mais de 7% em pequenas indústrias, sobretudo nos segmentos alimentar e de construção civil.
A lista inclui ainda empresas do ramo financeiro - como duas seguradoras -, firmas de consultoria, estética, saúde e formação profissional. Em termos de natureza jurídica, 83 eram sociedades unipessoais por quotas, 70 sociedades pluripessoais por quotas e as restantes sociedades anónimas.
Para se ter uma ideia, se cada uma dessas empresas dissolvidas empregasse, em média, cinco pessoas, isso significa que cerca de 790 trabalhadores passaram a procurar novos empregos no mercado. Vale lembrar que aqui só estão contabilizadas as empresas que disseram "basta" formalmente e por via do GUE. As empresas que estão desactivadas ou deixaram de funcionar sem comunicarem oficialmente esse facto, não fazem parte destas estatísticas.
Há várias razões objectivas para esses encerramentos, sobretudo no sector do comércio, que representa a maior parte do tecido empresarial do País. Muitas empresas dependem quase exclusivamente da importação de bens para revenda local, devido à fraca produção interna.
"Quando há uma moeda que desvaloriza fortemente, como é o caso do Kwanza, essa depreciação encarece as importações. Ou seja, comerciantes e outros importadores precisam de mais Kwanzas para trazer a mesma quantidade de produtos. No nosso caso, temos a desvalorização e o difícil acesso à moeda estrangeira", explicou Bernardo Vaz, economista e investigador do Centro de Investigação Económica (Cinvestec) da Universidade Lusíada de Angola.
Para o investigador, essas duas condições geralmente restringem as importações. Por isso, muitas empresas que antes buscavam produtos no exterior tentam encontrar fornecedores no mercado interno, mas raramente conseguem, dada a escassez da produção nacional de diversos bens. Assim, os importadores têm dificuldade em manter as prateleiras abastecidas, o que reduz o volume de negócios e os lucros, obrigando alguns empresários a tomar a difícil decisão de encerrar as actividades para evitar acumular prejuízos.
Menos consumo
O elevado número de dissoluções espelha o ambiente económico desafiante vivido pelos empresários, marcado também pela contínua perda do poder de compra das famílias, que não é reposto ciclicamente.
"Em tempos, fizemos um estudo e chegámos à conclusão de que, de 2003 até 2024, a inflação média foi de 21% ao ano. Ou seja, durante esse período de 22 anos, os salários perderam, em média, 21% do seu valor real todos os anos. Quem está no comércio de bens não essenciais, olha para estes números e reduz a actividade, porque sabe que grande parte do orçamento das famílias angolanas é dedicada à alimentação, ficando o resto para educação, transporte e saúde", lembrou o economista.
Uma empresa que comercializava materiais de electricidade e canalização revelou ao Expansão que, desde 2023, vinha enfrentando dificuldades para cumprir as obrigações fiscais. "Começámos a ter menos volume de vendas, quase ninguém está a construir residências nos últimos anos, e não dava para sobreviver apenas com a venda de produtos para reparação e manutenção. Além disso, havia os encargos fiscais. Foi difícil, mas tivemos de encerrar a atividade", disse o gestor.
Na prática, a ausência de medidas de alívio que estimulem o investimento e a manutenção das empresas existentes também contribui para o encerramento de várias delas em períodos de crise.
Leia o artigo integral na edição 839 do Expansão, de Sexta-feira, dia 15 de Agosto de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)