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COP15: líderes africanos pedem investimentos em "grande escala"

PARA TRAVAR DESERTIFICAÇÃO E ARIDEZ DOS SOLOS E RECUPERAR FLORESTAS

Só a Costa do Marfim precisa de 1,5 mil milhões USD para financiar o novo "Abidjan Legacy Programme", um projecto de cinco anos que irá utilizar diversas tecnologias para reparar terrenos e inverter o ciclo de perda de floresta. A Grande Muralha Verde é o grande projecto para combater a desertificação no continente.

A Costa do Marfim, país anfitrião da COP15, que decorre em Abidjan até 20 de Maio, pretende angariar 1,5 mil milhões USD para um programa quinquenal de recuperação de terras com o objectivo de recuperar florestas e aumentar a produção alimentar, anunciou o Presidente Alassanne Ouattara, na cerimónia de abertura da 15ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para Combater a Desertificação (UNCCD), onde os líderes africanos defenderam investimentos "em grande escala" para combater a desertificação no continente.

O novo "Abidjan Legacy Programme", com a duração de cinco anos, irá utilizar várias tecnologias, como a plantação de árvores e variedades de plantas resistentes à seca, para reparar terrenos degradados e inverter a destruição da floresta, que tem vindo a perder terreno para os campos de cacau. O maior produtor mundial de cacau perdeu 80% das suas florestas entre 1900 e 2021, como frisou o Presidente Ouattara, na segunda-feira, e corre o risco de perder o que resta até 2050, se o declínio continuar a este ritmo. Daí o sentido de emergência e o apelo ao sector privado, para ajudar a financiar um projecto governamental separado, que está em curso, com o intuito de restaurar 3 milhões de hectares de floresta até 2030 e que está avaliado em mil milhões USD.

O apelo de Alassanne Ouattara ecoou em vários líderes africanos, entre os quais os Presidentes da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi, da Nigéria, Muhammadu Buhari, e do Niger, Mohamed Bazoum, e representantes das Nações Unidas. Juntos defenderam a necessidade de investimentos "em grande escala" para lutar contra os efeitos ambientais, ao mesmo tempo que destacaram a rentabilidade destes projectos. "Os investimentos na reparação dessas terras é economicamente rentável, tecnicamente fazível, socialmente desejável e, claro, ecologicamente benéfico", declarou Ibrahim Thiaw, secretário executivo da COP15.

Thiaw corroborou os cálculos da UNCCD, segundo os quais cada dólar investido na restauração de terras pode gerar entre 7 a 30 USD. Antes do arranque da COP15, o Gabão sinalizou a importância que quer dar ao clima e ao ambiente, ao enviar para as reuniões da Primavera do FMI e do Banco Mundial, que se realizaram em Abril, o seu ministro do Ambiente, quando os outros países se fizeram representar pelos ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais. "Eles disseram que isto nunca tinha acontecido antes. O Gabão é apenas diferente", disse Lee White, ao South China Morning Post.

"Passámos muito tempo a falar sobre o financiamento do clima", acrescentou o ministro gabonês, que também tutela as florestas, oceanos e alterações climáticas. "Com mais de 60% das suas receitas provenientes do petróleo e do minério de manganês, o Gabão espera substituir as suas receitas petrolíferas pelo posicionamento estratégico das suas florestas, que cobrem mais de 80% do país", revela o jornal de língua inglesa de Hong Kong.

Durante duas semanas, chefes de Estado e de Governo, líderes do sector privado, cientistas e organizações não-governamentais de 196 países discutem formas de inverter a degradação da terra, a desflorestação e a desertificação, fenómenos que "alimentam" a pobreza e os conflitos em todo o mundo, como advertem as Nações Unidas. No mundo, mais de um quarto da terra fértil tornou-se não produtiva, com impacto na vida de 3,2 mil milhões de pessoas, sobretudo em comunidades rurais nos países mais pobres, muitos dos quais no continente africano.

Durante a COP15, que tem como tema "Terra, vida, legado, da escassez à prosperidade", deverá ser abordada a Grande Muralha Verde, um projecto faraónico que visa restaurar 100 milhões de hectares de terras áridas em África até 2030 numa extensão de 8.000 quilómetros, desde o Senegal até Djibuti. Um projecto que nasceu para combater a desertificação no continente africano, em especial na região do Sahel.