Reino do pirlimpimpim
Mas há cada vez menos bons no reino do pirlimpimpim. Mesmo alguns que sempre foram coloridos, estão agora a abandonar a terra ou misturar-se com os outros, os do cenário. Começam a faltar protagonistas e existe mesmo uma onda crescente que questiona de forma mais permanente as acções do produtor e do realizador. Pura heresia, pensam os coloridos.
No reino do pirlimpimpim tudo se resolve com toques de magia. Os bons, bonitos e coloridos não têm de se esforçar, basta quererem e, voilá, o desejo transforma-se em realização e passa a fazer parte da realidade. Sejam coisas simples, como uma análise pontual, ou coisas mais impactantes, como um plano sectorial ou uma mudança estrutural. Neste reino, não é preciso dar justificações nem explicar o que quer que seja, porque os bons, bonitos e coloridos, são os únicos protagonistas, os que concretizam as suas exigências, os que têm a dita sabedoria mágica. Os outros, aqueles milhões de figuras que compõem o cenário, que são isso mesmo, cenário, limitam-se a circular de um lado para o outro para tentar sobreviver.
O reino do pirlimpimpim, visto de cima, de fora, é fofo. Parece perfeito, pelo menos é isso que o realizador e o produtor da saga dizem vezes sem conta, tantas, que até eles já acreditam que o seu reino é único. Mas visto de dentro, tem muitas zonas sem cor, problemas que se acumulam, desesperos que crescem todos os dias, anormalidades que são inadmissíveis e que, no limite, levam os outros, os do cenário a abandonarem o reino. Mas também eles não fazem falta nenhuma. Não é por aí que o reino do pirlimpimpim se torna menos colorido.
Neste reino as coisas estão perfeitamente hierarquizadas. Há uns que mandam, mas que não decidem, porque isso é responsabilidade do realizador e do produtor. Há outros que obedecem, fingem que fazem, mas não fazem ou, então, por louca ilusão, fazem porque ainda acham que podem mudar as regras do reino do pirlimpimpim. Há também alguns que, fazendo parte do cenário, correm atrás dos bons, na esperança que estes com a sua magia lhes permitam ter alguma cor. Para que possam tornar também fofos.
Não se sabe, com absoluta certeza, quem construiu este reino do pirlimpimpim, sabe-se só que foi evoluindo ao longo dos anos, uma vez com planos mais abertos, outras com perspectivas mais fechadas. Umas vezes com mais emoção, outras com mais pragmatismo. A única certeza é que o produtor e realizador têm um poder quase infinito, que deixa muito pouco espaço aos outros protagonistas, por mais importância que tenham na vida do reino. Aliás, os mais coloridos, por vezes, são penalizados porque não percebem os limites das suas actuações. Até onde devem ir nessa coisa de serem populares e importantes.
Mas há cada vez menos bons no reino do pirlimpimpim. Mesmo alguns que sempre foram coloridos, estão agora a abandonar a terra ou misturar-se com os outros, os do cenário. Começam a faltar protagonistas e existe mesmo uma onda crescente que questiona de forma mais permanente as acções do produtor e do realizador. Pura heresia, pensam os coloridos. Se calhar isto vai mudar, respondem os do cenário. Mas no reino do pirlimpimpim tudo se repõe por magia. Mesmo que seja necessário alterar algumas regras...