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Opinião

A importância da cooperação empresarial no desenvolvimento das economias

Laboratório económico

Feitas as contas em África, as diferenças relativas para os países mais desenvolvidos aumentaram, quando era suposto diminuírem e mesmo desaparecerem. Reconhecem-se à ajuda pública ao desenvolvimento muitos parcos resultados positivos sobre os factores de desenvolvimento das economias africanas, sendo uma das causas destes insucessos a troca desigual (expressão decalcada de Arghiri Emmanuel do seu livro com o mesmo nome) inerente à filosofia da assistência externa.

A cooperação para o desenvolvimento é uma prática já com alguns anos de vivência, tendo começado por ser ajuda, pública sobretudo, mas também privada, aos países latino-americanos, asiáticos e africanos subdesenvolvidos e hoje configura-se essencialmente como parcerias privadas para a promoção do crescimento, comércio e relações financeiras.

Estão exaustivamente estudados os impactos negativos - em particular para as economias africanas - da ajuda pública ao desenvolvimento, sob as mais diversas formas que tem assumido desde que foi criado, em 1949 (um ano depois da sua constituição formal), pela Organização das Nações Unidas (1948) um "Programa Alargado de Assistência Técnica" com vista a apoiar o desenvolvimento económico dos países insuficientemente desenvolvidos.

Feitas as contas em África, as diferenças relativas para os países mais desenvolvidos aumentaram, quando era suposto diminuírem e mesmo desaparecerem. Reconhecem-se à ajuda pública ao desenvolvimento muitos parcos resultados positivos sobre os factores de desenvolvimento das economias africanas, sendo uma das causas destes insucessos a troca desigual (expressão decalcada de Arghiri Emmanuel do seu livro com o mesmo nome) inerente à filosofia da assistência externa. Jacques de Bandt estimou, para os idos anos 80 do século passado, em cerca de 80% o montante da ajuda francesa que regressava ao país no final do ciclo (só em salários dos seus expatriados, sem contabilizar as exportações de bens e serviços induzidas por essa assistência externa). Sobressaiu um fenómeno que passou a ser designado de paradoxo da ajuda externa: esta ajuda, ajuda mais quem a recebe ou quem a dá? A cooperação empresarial passou a ser o formato que substituiu a assistência pública externa, com resultados ainda não completamente comprovados em matéria de ajuda à promoção de um crescimento económico sustentado nas economias em desenvolvimento. A relação entre os parceiros privados nacionais e estrangeiros continua a ser desigual, em várias matérias fundamentais à afirmação de estratégias privadas de crescimento autónomas, produtivistas e competitivas.

A cooperação empresarial em África tem sido Norte desenvolvido-Sul subdesenvolvido. Estas relações comerciais expressam- -se pela troca de matérias-primas de reduzido valor agregado interno por bens e serviços acabados, com elevada incorporação de factores nacionais dos países desenvolvidos. E até há umas décadas passadas parecia não ser possível alterar a sua essência exploradora - de recursos naturais e de pessoas - dado o manifesto desequilíbrio entre os "parceiros".

A chegada da China a África, especialmente nos últimos anos(1) , tem sido um factor de mudança da essência do modelo de cooperação empresarial veiculado pelo ocidente europeu e pelos americanos. Cada vez se estuda mais a posição e o papel que a China e alguns outros países do leste asiático estão desempenhando e podem vir a desempenhar dentro de alguns anos.

A China tem construído a sua estratégia de relacionamento com África na base de um conjunto de princípios diferente da aproximação ocidental, em particular da "velha" Europa colonial. A não ingerência nos assuntos políticos internos tem sido um dos seus estandartes e os países africanos têm apreciado esta postura.

Os países ocidentais continuam a pautar o seu relacionamento económico com os países africanos na base duma série de condicionalidades políticas inexistentes nos protocolos de cooperação China-África. Graças a este comportamento muito prático, a cooperação económica entre quase todos os países africanos e a segunda maior potência mundial tem registado desenvolvimentos muito importantes em muitos sectores e os magnânimos financiamentos por si concedidos preocupam a Europa e os Estados Unidos, mas têm tido um importante efeito de imitação. O fundamental é que as lideranças africanas consigam aplicar com critério estas consideráveis somas de dinheiro.

Incentivo ao investimento

De que modo se deve revestir esta cooperação empresarial em sistemas económicos de mercado em que a concorrência e a maximização do lucro individual são os aspectos fundamentais do comportamento dos empresários? O que é que, de facto, funciona como incentivo ao investimento e à alocação de factores - que produzem, afinal, crescimento e desenvolvimento -: a cooperação empresarial ou a disputa por mercados e a conquista de partes consideráveis da procura privada da economia?

Sempre se ouviu dizer que a concorrência aguça o espírito de inovação e faz aumentar a produtividade. Não encerrará a cooperação empresarial riscos de criar poder de mercado excessivo e, portanto, com efeitos perversos sobre os preços e a criação de emprego?

Observada do ponto de vista da empresa, a cooperação pode ser entendida como parte da gestão de risco, isto é, tomando diferentes medidas estratégicas para assegurar a sobrevivência da empresa no futuro previsto. Isto faz parte da responsabilidade dos gestores para com os accionistas e a melhor maneira de o fazer é lutar por um modelo operacional que crie valor para todos os stakeholders, que, de outra maneira, poderiam, no longo prazo, tornar a empresa vulnerável.

Admitindo que a cooperação empresarial não conflitua com a concorrência(2) (a essência do capitalismo e do funcionamento da economia de mercado), em que aspectos pode ser parte contributiva do crescimento económico?

A criação de emprego pode ser, provavelmente, a mais importante responsabilidade económica empresarial para o crescimento, embora seja a consequência natural da constituição de actividades produtivas. Não se pode iniciar uma qualquer acção produtiva sem a combinação dos factores entre o trabalho. Marx dizia que o capital mais não é do que trabalho cristalizado, significando que a origem essencial do processo de produção - capitalista e não capitalista - é o trabalho.

Ainda que não existam estatísticas sobre o universo empresarial estrangeiro em Angola, pode presumir-se que actualmente deve ser relevante, com uma participação significativa de empresas chinesas e portuguesas, que podem representar cerca de 40% do PIB. Algumas observações a este respeito:

(Leia o artigo integral na edição 717 do Expansão, desta sexta-feira, dia 24 de Março de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)