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Opinião

A inovação no mundo corporativo e os caminhos para lá chegar

CONVIDADO

Este texto tem como propósito partilhar seis experiências, ou passos, relevantes para a implementação de estratégias de inovação no mundo corporativo.

Em primeiro lugar, gostaria de desmitificar o conceito de Inovação no âmbito corporativo. A palavra inovação remete automaticamente ao conceito de novidade, ou seja, criar algo. O nosso primeiro instinto é associá-lo à palavra criatividade. No entanto, a inovação no mundo corporativo é a antítese desse conceito. Porquê? O propósito da inovação corporativa é precisamente garantir que as empresas não estão reféns da criatividade dos seus colaboradores, ou do momento mágico de epifania.

Sendo assim, partilho aqui seis experiências que aprendi ao logo deste processo de Inovação.

Visão

Uma das bases para uma estratégia de inovação com sucesso está em estabelecer uma visão clara. Ver coisas onde elas não existem. Ao contrário de outros ramos profissionais, aqui a visão é tudo. É tudo e não num sentido romantizado, mas literal, onde até uma fase bastante avançada do projecto é, de facto, tudo o que nós temos para segurar. O facto de o projecto, provavelmente, ainda não fazer parte do roadmap da empresa fará com que até lá tenhas de conquistar os teus recursos, tempo, credibilidade e engajamento das restantes áreas. Isto tudo movido por um combustível único, a tua visão.

Sendo assim, apesar de existir um plano delineado, a única variável que se manterá constante durante este caminho será a "arrogância" da tua certeza de poder ver algo que os outros não vêem. Essencialmente, algo que não existe.

Plano

Tendo previamente desmistificado o conceito de inovação corporativa chegamos à conclusão que não se trata mais do que uma metodologia. Ora, se inovação é metodologia é, consequentemente, também plano. E é a planear onde se passa grande parte do tempo neste ramo. Primeiro, é essencial estabelecer um objectivo claro e mensurável. Uma vez estabelecido, estamos em condições de fazer um exercício de engenharia reversa. Nada mais, nada menos do que desconstrui- -lo em etapas e consequentes Milestones.

Ora bem, o segredo está exactamente no quão profundo pode ser este processo de desconstrução. A ideia é chegar a um nível onde os passos mapeados são tão esmiuçados que alguém alheio ao projecto os consiga interpretar e implementar. Isto irá permitir-nos ter uma visão macro, prever todos os possíveis cenários e ultimamente a viabilidade do projecto sem que o mesmo seja implementado. Menos detalhe do que isto, e estamos a entrar num campo de apostas onde a convicção é, pura e simplesmente, suportada pela tua crença. Isto relega o rácio de sucesso para a mesma eficácia de um relógio estragado, acerta duas vezes por dia!

Planeamento vs intuição

Tão certo quanto a obsessão de ter um plano detalhado, é a certeza que o mesmo se vai invariavelmente alterar. Daí a importância de desconstruíres o teu objectivo por etapas, que, embora complementares, são independentes. Isto irá permitir-te a flexibilidade de poder fazer alterações dentro de uma etapa específica mantendo a seguinte intacta, consequentemente, fazendo alterações no caminho sem ter de alterar o destino final do projecto. Pessoalmente, sempre tive a curiosidade de perceber até onde pode ir a intuição no processo de tomada de decisão. Há uns anos tentei fazer uma pesquisa de quem tem experiência prática no assunto e deparei-me com um vídeo de um sócio da McKinsey que vou tentar parafrasear.

O instinto, experiências e conhecimento tácito existem, e são de valor incalculável, no entanto, no momento de tomada de decisão deve ser criado um cenário onde o conhecimento explícito e codificado elimina todas as variáveis de risco e circunscrevem a tomada de decisão para um escopo bastante pequeno, onde essencialmente devemos estar a escolher entre o bom e o muito bom, nunca entre o bom e o mau. Ou seja, o instinto na tomada de decisão deve apenas ser usado na sua etapa final, quando o recurso ao conhecimento explícito já não consegue diferenciar uma alternativa da outra. Ou seja, o recurso à intuição deve ser feito de forma complementar e não de forma exclusiva.

Pessoas

O sucesso de uma estratégia será tão bom quanto a qualidade de execução dos seus intérpretes. Isto começa essencialmente pela escolha com quem se trabalha, pois não se fazem ovos sem... O segredo aqui está em fazer batota. Batota no sentido em que te deves dar todas as vantagens competitivas possíveis e imaginárias. Se justiça significa ter a mesma qualidade de ferramentas que os outros, então é imperial começares por ser altamente injusto rodeando-te das melhores pessoas que conseguires encontrar. Apesar de nas fases iniciais ser uma caminhada solitária, a tal visão resiliente nunca será materializada sem as pessoas correctas.

O dia-a-dia de um profissional de inovação é trabalhar com coisas, pessoas, processos e modelos, que ainda não existem. Isto faz com que seja necessária uma capacidade de interpretação de objectivos finais muitas vezes sem ter algo palpável para tocar ou uma referência prévia para seguir. Ora, quem não consegue interpretar, não consegue ver nem consegue fazer.

(Leia o artigo integral na edição 709 do Expansão, de sexta-feira, dia 27 de Janeiro de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)