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Opinião

Mangas

EDITORIAL

Os maiores pomares, leia-se as instituições que podem produzir mais mangas, estão repletas de legiões de quem passa a definir as linhas estratégicas que se vão aplicar a quem está.

Entre estar e passar há uma diferença enorme. Quem está preocupa-se, quem passa desenrasca-se. Quem está constrói estruturas com fundições, quem passa tem preferência pelo pré-fabricado. Quem está olha para daqui a 50 anos, quem passa olha para daqui a 50 meses. Por isso não pode haver confusão, nem vale a pena tentar justificar o trabalho único de quem passa sem valorizar quem está, tal como me parece extremamente injusto estar sistematicamente a oferecer as melhores mangas do nosso quintal a quem passa, num orgulho primário, mesmo sabendo que quem está pode também desfrutar dessas mangas com a mesma técnica e eficiência, com a enorme vantagem de não querer derrubar mangueira, pois sabe que vai precisar dela para dar sombra aos seus filhos e aos seus netos.

Os guardiões das mangueiras, atenção que eles não são os donos embora o assumam, aqueles que deviam dar o exemplo, fazem o contrário. Sempre que há uma manga mais apetitosa, que até podia ajudar a desenvolver quem está, lá vai para quem passa por entrega directa. Mesmo que não pague por isso, porque em abono da verdade os que passam raramente deixam alguma coisa no mealheiro do pomar. Talvez nos mealheiros dos guardiões, mas isso são tudo suposições.

Os maiores pomares, leia-se as instituições que podem produzir mais mangas, estão repletas de legiões de quem passa a definir as linhas estratégicas que se vão aplicar a quem está. Parece irónico, mas é verdade, os guardiões dão autoridade a quem passa para definir quais e quantas mangas podem ser entregues a quem está. E naturalmente eles vão ficar as melhores frutas. Também é preciso dizer que alguns destes guardiões também já fazem parte do grupo de quem passa e já não estão a pensar voltar ao grupo de quem está. Já são do mesmo "time" deles e têm orgulho nisso.

Também me incomoda que se arranjem constantemente desculpas esfarrapas e leis esquisitas para continuar a dar as mangas mais "carnudas" a quem passa. Quer fazer-se passar a ideia que são indispensáveis, únicos, que quem está não tem as mesmas qualidades, nem é capaz de fazer o mesmo. Pode até ser, mas uma divisão mais equilibrada da divisão das colheitas era, pelo menos, um acto patriótico. Mais um pormenor, mas este é apenas de leitura pessoal, muitos dos quem passa são no mínimo, de qualidade igual ou inferior aos do quem está. E isso vê-se facilmente em muitos pomares.

Uma última chamada de atenção. As mangas entregues aos quem passa raramente têm retorno, ou seja, os seus caroços não voltam à nossa terra para dar novas mangueiras. Pelo contrário, levam as mais valias das nossas maiores mangas para plantar em pomares de outras frutas na sua terra de origem. E já agora, pedir a quem o pode fazer, um pouco mais equidade e justiça na distribuição das mangas. Os quem está estão a ficar zangados....