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Opinião

A inversão dos valores do jornalismo

IDEIAS & VISÕES

Uma imprensa que se afasta, cada vez mais, do contraditório, da imparcialidade, que se escusa às verdades inconvenientes. Os esforços para a censura dos media tradicionais é cada vez mais apertado.

A guerra na Ucrânia abriu novas frentes. No campo da comunicação social as fragilidades abrem feridas aos fundamentos da liberdade de imprensa e de expressão. Hoje, nota-se que a guerra não se desenvolve só no campo de batalha, mas também em outros domínios.

Em relação à comunicação, a informação, dissimulada, passou a ser fortemente apelativa e, frequentemente, emocional. A notícia é propaganda, tem a finalidade de influenciar o telespectador, leitor, ouvinte ou o internauta.

Chegámos à era de novos paradigmas no jornalismo. As liberdades de opinião, de expressão e de imprensa estão limitadas. Fecham-se canais de TV, jornais, sites, etc. Não há o livre acesso à informação.

No início deste mês, a porta- -voz do Ministério de Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, anunciou que o seu governo iria proceder da mesma forma caso alguns veículos estatais russos fossem impedidos de operar nos Estados Unidos e em outros países ocidentais, com a retirada de licenças de transmissão e aplicação de sanções aos veículos.

Dos dois lados violam-se, sistematicamente, as regras elementares do jornalismo. Do mesmo jeito que se diaboliza a Rússia, Putin e o seu governo, santifica-se a Ucrânia, Zelensky e o seu governo. O ocidente impõe um sistema de imprensa normativo e regulado, próprios de monocracias, violando as liberdades. Em toda a Europa ampliam- -se as barreiras em relação à Rússia e demolem-se os pilares das liberdades individuais e da democracia.

Uma imprensa que se afasta, cada vez mais, do contraditório, da imparcialidade, que se escusa às verdades inconvenientes. Os esforços para a censura dos media tradicionais é cada vez mais apertado, mas, felizmente, as redes sociais continuam a complexificar a guerra mediática.

O que se nota da postura dos governos e da imprensa, particularmente da televisão, dominante em audiência e credibilidade, é, claramente, uma socialização mediática que distorce a noção do outro, gera atitudes paranóicas ou agressivas, pela exposição excessiva, sustentada na "teoria do cultivo" de George Gerbner.

Essa cobertura mediática, carregada de falsidades, sensacionalismo, populismo e propaganda, difundidos e incitados contra a Rússia ou contra terceiros países, cria o sentimento de revolta e contribui para a formação de públicos cada vez mais distantes e desconfiados.

Num momento em que, claramente, a Ucrânia e o Ocidente vêm acumulando derrotas na guerra, surgem comentários repugnantes em alguns meios de comunicação. Recentemente, a comentarista da CNN Portugal, Diana Soller, considerou "a aproximação da Rússia a Africa para a venda de cereais revoltante e intromissão nos "esforços" que a Europa vem fazendo para melhorar a vida dos africanos".

Este tipo de afirmações gera indignação, repugna a consciência dos africanos e revela desconhecimento da nossa história. Ela instiga para que nos envolvamos e ignora a nossa identidade antagónica, tanto na esfera política, quanto no conflito actual na Europa.

Para a África, onde o passado, e as vivências recentes, na relação com a Europa não deixa saudades, a análise sobre o conteúdo desses programas e comentários, de jornalistas ou de especialistas, sugerem informações cínicas, preconceituosas, críticas e parciais, com o mesmo pendor e fim daquele que dizem do contraventor.

Estes são os valores e os paradigmas da imprensa "livre" que nos impõem com a guerra na Europa. Uma tendência Ocidental do século XXI, longe dos cânones que proclamam e aclamam.