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"É papel de todos nós reescrevermos a nossa história"

EDDIE PIPOCAS E VANESSA SANCHES | MENTORES DO BENTUMEN

Da plataforma digital o projecto migrou para outras variáveis culturais, cujo foco está assente na aproximação da cultura dos países lusófonos e levar os africanos a pensarem África. Ao Expansão, os dois jovens defendem maior representatividade da pessoa negra no mundo.

A revista Bantumen conta com 10 anos. Qual é o balanço que fazem?

A revista foi algo que desenhámos há 10 anos, desde o lançamento, mas foram 13 anos entre idealizar, juntar dinheiro, porque é uma plataforma 100% independente, na altura de dois jornalistas. O projecto surge em 2015, mas começou a ser pensado em 2012. E tudo o que aconteceu até hoje, tirando essa entrevista, foi pensado há 10 anos. Onde queríamos estar, como queríamos olhar o futuro daquilo que acreditámos que é o jornalismo cultural, a nível não só da Angola, mas dos outros países que também falam português, onde há pessoas africanas. Portanto, transformámos uma revista digital numa plataforma cultural, que hoje tem outras áreas, que trabalham diferentes áreas culturais, como, por exemplo, a comunicação e a curadoria de artistas.

A revista nasceu em Angola?

Sim, a revista nasceu em Angola, mas hoje é lusófona, portanto, está presente em todos os países que falam português e que têm presente as nossas comunidades, porque somos diferentes em várias coisas, mas temos uma cultura muito forte, muito presente, muito ancorada às nossas tradições. Hoje continuamos a vivê- -las de diferentes formas, também modernizadas, e é isso que nós queremos portar para o mundo. E o passado histórico em comum, que é a nossa colonização.

De forma é que estão a comemorar os 10 anos?

A revista nasceu em Angola, então não haveria outra forma possível de começar a celebrar estes 10 anos, que para nós são um marco. Então, essas celebrações começam justamente em Angola. Agora, com a parceria da Creative Hub, da Fundação Cipro Group, começámos na terça-feira, com uma conversa, justamente sobre estas questões da nossa cultura, da nossa identidade, de como podemos trabalhar hoje para nos mostrarmos daqui a 20, 30, 40 anos, enquanto criativos, pensadores dos nossos temas e da nossa cultura. Foi uma conversa connosco, com os membros da Creative Hub, e também com outras pessoas singulares que estiveram presente, porque a ideia não era apenas debitarmos coisas para o público, queríamos uma conversa entre todos, porque todos nós, do taxista ao músico, todos nós somos pensadores daquilo que estamos a fazer. Vamos ter uma rota cultural, vamos passar em diferentes espaços criativos luandenses e, no dia 24, vamos inaugurar a nossa primeira exposição em Angola.

Quais são os lugares por onde vão passar?

São vários locais. Vamos passar por alguns restaurantes culturais, restaurantes ligado à cultura da Etiópia, ligado à cultura de Cabo Verde. A Bantumen nasceu em Angola e abraçou todos os outros países que falam português aqui no nosso continente. Assim, vamos emergir completamente nestes espaços em Luanda que têm estes diferentes olhares, não são só restaurantes, são também pensadores de cultura.

Trazem o símbolo do pensar para a vossa reflexão...

O pensador acaba por ser um símbolo nacional, mas também é um símbolo de reflexão mundial. Nós crescemos com o ícone do pensador em todos os sítios, nas comemorações angolanas, no dinheiro, e então isso ajuda-nos a reflectir como nós queremos olhar o nosso amanhã. Acreditamos que se não pensarmos no amanhã, só somos conduzidos sem perceber para onde estamos a ir. Então, o pensar, o premeditar, o olhar para o futuro, é essa reflexão que nós temos. Como dissemos, tudo o que aconteceu ao longo desses anos, pensávamos há 10 anos. E agora essas conversas, também vamos pensar nos próximos 10 anos. Nesses 10 anos conseguimos estar nos 7 países que falam português. Quem sabe, nos próximos 10, vamos estar noutros sítios, vamos elevar a nossa cultura a outros pontos do mundo. Esta questão do pensador, a intenção é pensarmos nós, enquanto pessoas africanas, muito além daquilo que foi o nosso passado recente, estamos a falar da colonização. Mas nós antes disso já éramos muitas coisas. Então, como conseguimos nos rever no futuro sem estarmos necessariamente só ligados à questão da colonização.

Vão também reflectir Angola em 2045?

Sim, nós precisamos hoje pensar nos próximos 25 ou 20 anos para tentarmos preparar este futuro. Porque, a bem da verdade, estamos a reclamar das mesmas coisas há mais de 50 anos. Talvez, se nos prepararmos, vamos preparar as temáticas para serem discutidas daqui a 20 anos. Pensar daqui a 20 anos é começar a preparar a nova geração. Olhar para 2045 é um bocadinho olhar para aquilo que os nossos antepassados tinham em 75, e o que é hoje.

Quem são os artistas que vão expor e quantas obras serão expostas?

É uma exposição que tem a curadoria da Creative Hub, e tem como título "As Camadas da Alma", que é justamente também a base do trabalho que a Bantumem tem, que é fundamentar e desenvolver, que é mostrar a nossa cultura, tal como ela é, e através de diferentes perspectivas. A exposição vai contar com fotografias de três artistas, Aladino Jasse e Vernon de Castro, angolanos, e de Edson Bernardo, moçambicano. São 10 obras, fotografias reproduzidas em serigrafia, pois a intenção é proporcionar diferentes ângulos e diferentes perspectivas. Então, esta reflexão de como nos percepcionamos hoje e para o futuro. A exposição está patente até dia 30 de Outubro, na Galeria Plano B.

Estão também a preparar as actividades do Mês da Identidade Africana?

Sim. Estas actividades que estão a ser realizadas em Luanda abrem, aquilo que estamos a fazer em Portugal anualmente, que é o Mês da Identidade Africana (MIA). Porque Portugal é quase uma das nossas principais diásporas, seja para os angolanos, para os cabo-verdianos, moçambicanos e para os outros países. E, apesar da história que nos liga ao país em si, Portugal, nós ainda não somos representados como devíamos. É sempre uma perspectiva ainda muito colonial, paternalista e que não nos olha como nós merecemos.

Leia o artigo integral na edição 849 do Expansão, de sexta-feira, dia 24 de Outubro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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