A conta corrente externa em 2024
A melhoria do saldo externo foi feita à custa da redução da oferta global (redução das importações sem substituição por produção interna), o que, apesar de melhorar o equilíbrio da BP, desequilibra a oferta e procura, criando uma ENORME inflação!
Ficam alguns dados da conta corrente externa, nomeadamente aquilo que foram as importações e exportações em 2024, olhando também para a balança externa não-petrolífera, que sinaliza a diversificação económica e a balança de transferências. O saldo da balança externa não- -petrolífera é permanentemente negativo, melhorando 5,2%, correspondentes a 788 milhões de USD, mas com tendência muito negativa (+7,6% no 4.º Trimestre).
Os bens e serviços não-petrolíferos exportados reduzem-se de 2,29 para 2,24 mil milhões (-2,1%). O decréscimo de 837 milhões nas importações, que passam de 17,4 para 16,6 mil milhões foi determinante para a variação positiva do saldo (+788 milhões). A cobertura das importações pelas exportações não-petrolíferas melhora muito pouco, de 13,2% para 13,5% em acumulado, mas piora nos 4.os Trimestres, saindo de 17,1% para 13,7%.
Sem petróleo não teria sido possível importar cerca de 85% do que adquirimos ao exterior! Estrutura das exportações O petróleo bruto tem vindo a ganhar um peso cada vez mais relevante nas exportações nesta legislatura.
A classificação das 10 primeiras categorias de produtos, no ano de 2024 foi a seguinte: o petróleo bruto pesou 85,1% das exportações, seguido do gás (7,3%), diamantes (4,2%), refinados 1,1%, máquinas e equipamentos (que não são produtos internos) 0,4%, materiais de construção 0,3%, bens alimentares 0,3%, minérios (excepto petróleo, gás e diamantes, 0,2%, bebidas 0,1% e madeiras 0,0%. Os outros bens representam 0,4 e os serviços 0,2%! Não há qualquer diversificação das exportações! Estrutura das importações Por categoria de produtos os 10 itens mais adquiridos foram:
■ 1.º, máquinas e equipamentos, que se mantêm à volta de 3,5 mil milhões de USD, com uma ligeira inversão (+1,9%) no 4.º Trimestre; ganham 1 posição.
■ 2.º, serviços de transporte, que passam de 2,8 para 3,1 mil milhões (+10,0%), com um fortíssimo crescimento no 4.º Trimestre (+39,7); ganham 1 posição.
■ 3.º, combustíveis, que passam de 3,6 para 3,1 mil milhões de USD (-15,2%), com (-2,6%) no 4.º Trimestre; perdem 2 posições.
■ 4.º, os bens alimentares, que crescem de 1,95 para 2,0 mil milhões (+5,1%), com -8,3% no 4.º Trimestre;
■ 5.º, as viagens, que passam de 1,35 para 1,52 mil milhões (+12,2%) com +23,3% no 4.º Trimestre. O grosso (92%) do aumento das viagens é capturado pelas companhias estrangeiras! Onde anda a TAAG? Ganham 2 posições.
■ 6.º, as construções e materiais de construção, que passam de 1,1 para 1,5 mil milhões de USD (+37,5%) e com tendência crescente (+26,5% no 4.º Trimestre). É necessário esclarecer este crescimento dos materiais de construção sem um crescimento proporcional da construção. Será que as obras do Estado continuam a impulsionar o crescimento das importações, apesar da lei ordenar que se privilegiem os materiais internos? Ganham 3 posições.
■ 7.º, os serviços às petrolíferas, que passam de 1,6 para 1,4 mil milhões (-12,9%), mas com tendência muito negativa (- -31,2% no 4.º Trimestre); descem 2 posições. Preocupante já que a descida parece corresponder mais a uma redução da actividade do que à substituição por serviços locais!
■ 8.º, os serviços de construção, que descem de 1,5 mil milhões para 1,1 (-21,8%), mas com +36,7% no 4.º Trimestre! Apesar de tudo, a troca de posições entre materiais de construção e serviços de construção agrega mais valor acrescentado nacional, sendo, portanto, positiva; perdem 2 posições.
■ 9.º, os produtos químicos e farmacêuticos (essencialmente medicamentos) passam de 1,1 para 1,0 mil milhões (-6,7%), embora cresçam 28,7% no 4.º Trimestre. Apesar de ganharem uma posição, esta redução de cerca de 7% na importação de medicamentos é a principal causa da inflação nesta categoria; ganham 1 posição.
■ 10.º, as viaturas, que descem de 1,3 para 0,9 mil milhões (- -33,1%) com -11,5% no 4.º Trimestre. Perdem 2 posições, o que é uma evolução positiva, no nosso entender! Os restantes bens e serviços caem de 3,9 para 3,5 mil milhões (-9,7%), mas com +2,4% no 4.º Trimestre.
A eliminação gradual dos subsídios aos combustíveis, se tivesse sido iniciada em 2018 como recomendámos, teria muito maior efeito macroeconómico (incluindo um menor efeito inflacionista), mas, infelizmente, maior efeito político. Por isso continua a não ser feita. Como temos explicado, é possível fazer a retirada imediata do subsídio geral, sem perdas para os cidadãos mais necessitados, desde que se compense com subsídios a actividades específicas (transporte urbano de passageiros e agricultura), sem choques dramáticos à produção e aos preços, mas com uma redução substancial do consumo deste produto de importação, melhorando significativamente a nossa balança comercial.
Conclusão sobre a balança comercial externa
A melhoria do saldo externo foi feita à custa da redução da oferta global (redução das importações sem substituição por produção interna), o que, apesar de melhorar o equilíbrio da BP, desequilibra a oferta e procura, criando uma ENORME inflação!
Balança de transferências
A balança de rendimentos de trabalho deteriora-se ligeiramente de -305 para -357 milhões de USD (+17,2%), exclusivamente à custa dos rendimentos dos expatriados.
Continua a não existir qualquer registo de transferências de salários da diáspora para Angola!! Sendo esta uma fonte importante de divisas em muitos países africanos, não se entende este completo divórcio entre a diáspora e o país. Se poderá haver algumas remessas incluídas na balança de rendimentos secundários, elas são insignificantes, uma vez que o total de remessas desta rubrica é, ele mesmo, insignificante, exigindo-se uma actuação muito mais dinâmica para atrair estas poupanças. A balança de juros e lucros, que domina toda a balança de transferências, passa de -8,3 para -7,3 mil milhões de USD (-12,2%).
Leia o artigo integral na edição 827 do Expansão, de Sexta-feira, dia 23 de Maio de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)
**Heitor Carvalho | Economista e director do Cinvestec
Agostinho Mateus | Economista e investigador