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Opinião

Crédito à Produção: Avanços lentos e obstáculos no II trimestre de 2025

CHANCELA DO CINVESTEC

O problema principal parece estar na oferta de crédito por parte da banca, que continua a evitar alterar o seu modelo de negócio, aumentando o risco e os capitais. A banca privilegia sobretudo o crédito ao Estado, porque tem taxas mais elevadas e risco reduzido.

Após um crescimento substancial no III trimestre de 2024, o crédito à produção tornou-se negativo no I trimestre e cresceu muito ligeiramente no II trimestre de 2025.

O crédito líquido à produção foi negativo nos I e IV trimestres de 2022 e no I trimestre de 2025, aceitável apenas nos II e IV trimestres de 2023 e no III trimestre de 2024, e anémico nos restantes. Ou seja: 3 trimestres razoáveis, 3 trimestres negativos e 8 trimestres anémicos.

De notar que há uma distorção nestes valores resultante da variação cambial. Um crédito de 1.000 USD valia, no início de Maio de 2023, cerca de 505 mil kwanzas e, no fim de Junho, cerca de 822 mil. A fraca concessão efectiva de crédito deu a estas variações cambiais um peso significativo: entre 2021 e 2022, no sentido descendente (aparente menor crédito concedido), e em 2023, no sentido ascendente (maior crédito concedido), havendo tendência mista em 2024. Não tendo dados sobre o volume de stocks de crédito em moeda externa, apenas podemos alertar o leitor para ter em conta estas circunstâncias na sua leitura. Contudo, a estabilidade cambial desde há cerca de um ano tem minimizado esta questão.

Desde o I trimestre de 2022 até ao II trimestre de 2025, o crédito nominal à produção totalizou cerca de 2.519 mil milhões de kwanzas, com um valor médio de 60 mil milhões por mês - claramente insuficiente para os desafios da economia angolana. O crédito às famílias somou 1.377 mil milhões de kwanzas, representando 35% do crédito total. O problema principal parece estar na oferta de crédito por parte da banca, que continua a evitar alterar o seu modelo de negócio, aumentando o risco e os capitais. A banca privilegia sobretudo o crédito ao Estado, porque tem taxas mais elevadas e risco reduzido. Não é fácil alterar a situação. Nestas condições:

Desde o I trimestre de 2022 até ao II trimestre de 2025, o crédito nominal à produção totalizou cerca de 2.519 mil milhões de kwanzas, com um valor médio de 60 mil milhões por mês - claramente insuficiente para os desafios da economia angolana. O crédito às famílias somou 1.377 mil milhões de kwanzas, representando 35% do crédito total. O problema principal parece estar na oferta de crédito por parte da banca, que continua a evitar alterar o seu modelo de negócio, aumentando o risco e os capitais. A banca privilegia sobretudo o crédito ao Estado, porque tem taxas mais elevadas e risco reduzido. Não é fácil alterar a situação. Nestas condições:

É fundamental não se acrescentarem critérios que, para além da análise do negócio, compliquem ainda mais a concessão de crédito; todo o crédito à produção e à habitação é bom;

O Estado deve reduzir o seu peso no crédito, baixando a despesa pública e obrigando os bancos a procurarem formas alternativas de remunerar o seu capital;

É urgente titular a propriedade, sobretudo a imobiliária e fundiária, promovendo um mercado de venda de propriedades que reduza o risco da banca;

Ter garantias reais é fundamental, mas os bancos não se interessarão em ter mais hipotecas se não existir um mercado de propriedades activo e de elevada liquidez.

Para a dinamização do mercado, é necessário que não se coloquem entraves às transacções e que a execução das garantias seja célere. Isso pressupõe, como contrapartida, a criação de mecanismos de protecção mais eficazes para os casos de insolvência, garantindo a protecção pelo Estado das pessoas envolvidas, mas sem prejudicar os direitos dos credores a receberem o seu quinhão e a poderem, rapidamente, liquidificá-lo. Nenhum destes problemas está, até hoje, resolvido satisfatoriamente. Pelo contrário, as normas existentes criam entraves à sua resolução.

A par dos sistemas de crédito formais, os negócios recorrem a esquemas alternativos de crédito, nomeadamente o crédito mutualista sem juros, conhecido como Kixikila, e o crédito particular com taxas de juro elevadíssimas, superiores a 100% ao ano, bem como o crédito pessoal para financiar os negócios. Os esquemas de micro- -crédito praticamente não funcionam: quando concedidos ao abrigo de programas do Estado, são tidos como apoios não reembolsáveis e não como empréstimos. Há quase tudo a fazer no que diz respeito ao crédito aos pequenos negócios; de momento, o micro-crédito satisfaz apenas uma percentagem muito reduzida da procura.

A distribuição percentual entre o stock de crédito à produção e ao consumo, desde o I trimestre de 2022 até ao II trimestre de 2025, é agora de 65/35. No início de 2024, era de 80/20; nesse ano melhorou para 88/12 e, em 2025, melhorou ainda mais para 89/11. É positivo que o crédito à produção tenda a ser dominante, mas, infelizmente, o volume continua muito reduzido.

Leia o artigo integral na edição 843 do Expansão, de Sexta-feira, dia 12 de Setembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

*Bernardo Vaz, Economista

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