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Opinião

Recuperar a confiança

EDITORIAL

Os angolanos, na sua maior parte, estão a exportar as poupanças para fora, a colocar os filhos a estudar no estrangeiro, a comprar casa noutros países. Uma parte muito significativa da classe média e alta está a investir o que tem fora. E, já agora, diga-se que este é também o exemplo que a maioria dos nossos dirigentes dá à população, porque faz exactamente isso.

Estando fora do País, falando com muitos que optaram por sair para tentarem uma vida melhor e mais equilibrada para a sua família, temos possivelmente uma noção mais exacta das fragilidades actuais da Nação. Uma delas é indiscutivelmente a falta de confiança. Uma variável que é decisiva para o desenvolvimento económico, apesar de não constar das fórmulas matemáticas. Falta de confiança implica transferência de riqueza para fora das fronteiras, falta de empenho nos objectivos locais e limitação na criação de emprego, apenas o necessário para manter a actividade. Falta de confiança também leva a que não se corram riscos na actividade empresarial, que exista uma desmobilização dos meios e o investimento seja mínimo.

Queria abrir um parêntese para reforçar que não conheço nenhum País que se tenha desenvolvido económica e socialmente, tendo por base o investimento estrangeiro. Essa coisa de andarmos a tentar passar a ideia que serão os americanos, os turcos ou árabes que com os seus investimentos vão desenvolver Angola, é uma falácia. Precisamos seguramente de capital estrangeiro para projectos de maior dimensão ou que necessitem de outro conhecimento, mas a base do desenvolvimento económico terá de ser feito com o investimento, leia-se a poupança, dos angolanos.

E aqui surge a falta de confiança. Os angolanos, na sua maior parte, estão a exportar as poupanças para fora, a colocar os filhos a estudar no estrangeiro, a comprar casa noutros países. Uma parte muito significativa da classe média e alta está a investir o que tem fora. E, já agora, diga-se que este é também o exemplo que a maioria dos nossos dirigentes dá à população, porque faz exactamente isso. Não é apenas o cidadão anónimo, o quadro superior que se destaca na sua empresa que não mostra confiança no País, são também estes que partilham o poder nas principais instituições e que estão a salvaguardar o futuro fora das nossas fronteiras.

Reconheço que uma parte importante da culpa desta situa[1]ção cabe ao tipo de governação que temos tido ao longo das duas últimas décadas, muito pouco inclusiva, preferindo trazer parceiros internacionais do que dar oportunidades a angolanos que pensam diferente ou não estão alinhados com o nosso partido. A questão dos incentivos fiscais extremamente generosos oferecidos sem uma justificação sólida a investimentos estrangeiros de impacto duvidoso também não ajuda a restabelecer este ambiente de confiança.

Este é provavelmente o grande desafio para 2024. Recuperar a confiança dos angolanos. E isso faz-se com acções concretas e não com processos de intenção ou palavras bonitas.

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